sábado, 23 de novembro de 2013

RECORDAÇÕES DE UM CRIME



Beijou-lhe os lábios. Ofereceu-lhe uma coca-cola. Pediu pra que passasse aquela tarde com ele. Confuso, com os olhos arregalados e o coração acelerado como uma batucada de tambores, não sabia o que pensar. O homem tinha mais de 40 anos. Seu pai saiu do banheiro. Ficou tentado com a proposta, mas preferiu voltar pra casa com o pai. Estava excitado e nervoso. No caminho de volta pra casa, lembrava das sensações, da forma como havia sido tocado. Era assustador, era bom. O homem estava debilitado, à pouco tempo havia perdido a visão. Os familiares não gostavam de deixá-lo só em casa, por isso sempre arranjavam alguém pra fazer-lhe companhia. Quando ele o tocou daquele jeito não parecia cego. Naquela tarde o pai queria deixar-lhe fazendo companhia ao velho amigo que não estava enxergando. Ele teve medo, apesar do frêmito de excitação e da curiosidade. Na cama, enquanto tentava pegar no sono, se inquietava relembrando a surrealidade daquela situação. Passou os dias ansioso por encontrar-lhe de novo. Será que ele o beijaria novamente? Será que estaria apaixonado? Como poderia ser, era um homem casado? Achava-a querida, gostava dela. O que estava acontecendo? Por que ele tinha feito aquilo? Precisava de respostas. Da segunda vez que ficaram sozinhos propôs-lhe uma brincadeira. Pediu que fechasse os olhos. Foi até a geladeira, pegou um pote de goiabada e disse para manter os olhos bem fechados. Abriu o zíper da calça, colocou o pênis pra fora e com o membro rijo em direção a sua boca jovem, macia e rosada, exalando o puro frescor da inocência, mandou-o que lambesse suavemente com a ponta da língua e sem abrir os olhos em hipótese alguma, o doce que ele teria que descobrir qual era apenas pelo paladar. Aproximou a língua com receio da glande à sua frente. O sabor azedo não lhe lembrava doce algum. Sentiu-se ludibriado e abriu os olhos. O homem recompôs-se ligeiramente, mostrando-lhe o doce de goiaba. O gosto que tinha sentido nada tinha a ver com goiabada, ficou confuso. O homem percebendo sua desconfiança e desconforto, não tentou mais nada naquele dia. Noutra ocasião, em um almoço de domingo, as famílias se reuniram. Após a refeição o homem recolheu-se. Ele também sentiu vontade de tirar um cochilo. A esposa disse-lhe que se deitasse com seu marido. Na cama do casal, o homem recostou-se em posição fetal atrás dele e friccionou em movimentos crescentes seu membro, pedindo que ele o tocasse. Virou-se de frente pro homem e quando tocou seu sexo duro ficou admirado, nunca tinha visto daquele tamanho. Estava excitado como nunca antes. Suas mãos pequenas e macias faziam movimentos de vai e vem que deixavam o homem atordoado de prazer. Explodiu num gozo farto e silencioso enquanto as pessoas na sala assistiam televisão. Mais uma surpresa, mais um susto. Imaginou que tivesse machucado o homem, que se esvaía em sangue, um sangue branco e viscoso que ensopava a cama inteira e que ele nunca tinha visto igual. Quis saber o que era. Leitinho quente feito especialmente pra ele, disse-lhe o homem, mandando-lhe experimentar. Ele não quis. Achou estranho. Sentiu um pouco de nojo. O homem começou a tocá-lo depois. Teve seu primeiro orgasmo, mas o leite não saiu. Quando percebeu que ele tinha atingido o clímax, sussurrou no ouvido do menino de 7 anos, que aquele seria um segredo só deles.  

terça-feira, 12 de novembro de 2013

É IMPOSSÍVEL SER FELIZ SOZINHO?





Acordou às 7. Tomou dois goles ligeiros de café preto. Fez sua corrida matinal aos arredores do parque que tinha em frente ao seu apartamento. Voltou pra casa suado, como de costume. Tomou uma ducha fria. Preparou uma caprichada mesa pra fazer sua primeira refeição: pão fresco, suco natural feito na hora, queijo, patês e morangos, adorava morangos pela manhã. Antes de pegar no batente, àquele ritual era sagrado. Um pequeno prazer matinal que enchia de satisfação o corpo e a alma.


Enquanto tomava o café e apreciava a belíssima vista verdejante que o parque proporcionava da janela de sua sala, no som ouvia Wave. Adorava a canção de Tom Jobim, mas quando chegava na parte em que ele entoa que "é impossível ser feliz sozinho", emitia um silencioso sorriso de desdém. Era um homem solitário, talvez por opção. Gostava da solidão auto-imposta e não se sentia infeliz em absoluto.

Às 9 trancou-se no escritório. Tinha acabado de ser contratado por uma editora e estava às voltas com um novo romance. Enquanto escrevia, sentiu Barbarella ronronar e enroscar-se em suas pernas pedindo comida. Interrompeu o terceiro capítulo na metade para encher o pote da gata angorá cinza, de ração.

Ao meio-dia fez uma pausa pro almoço. Colocou no forno a lasanha congelada de legumes. Serviu-se de uma taça de chardonnay e saboreou sua refeição pensando na proposta que recebera de uma emissora de tv pra roteirizar um seriado. Estava empolgado com a ideia, mas nervoso, seu objetivo era a televisão, a grande massa, queria levar um pouco de entretenimento inteligente para o povo, e as coisas estavam acontecendo como ele sonhara, sem falar no salário de um roteirista de televisão, que era uma fábula. Não poderia estar mais feliz. As coisas se encaminhara, depois de tantos percalços sua vida estava nos trilhos. Morava em um lugar que imaginara meticulosamente, trabalhava com o que mais amava, tinha Barbarella e sua abençoada solidão.

Após o almoço voltou à ativa, precisava terminar o terceiro capítulo. Às 18 horas, encerrou as atividades do dia. Encontrou-se com os diretores da emissora em um piano-bar às 19:45, pra conversar sobre o seriado e o contrato que estava prestes a assinar. Ao som de Billy Holliday e Nina Simone, tudo correu às mil maravilhas, saiu do piano-bar com mais um contrato assinado. Estava feliz como nunca. Recebeu um telefonema da mãe que estava em Aspen, esquiando - presente dado por ele em comemoração aos seus 60 anos - e contou a notícia quentinha, recebida pela mãe com grande estardalhaço. Sua mãe era seu tudo, esteve sempre ao seu lado fazendo o impossível para que realizasse seus sonhos de criança. Era a única amiga de verdade que tinha na vida.

Precisava comemorar sua recente conquista, não cabia em si de alegria. Saiu pra dançar, extravasar. Bebeu, dançou, beijou. Terminou a noite entre lençóis de cetim em um motel. Não trocou telefone, saiu antes, pagou a conta, apesar da insistência do outro pelo número dele, pra que saíssem juntos e pra que deixasse a conta pra ele pagar. Não queria vínculos, apenas uma noite, uma comemoração. Havia desistido dessas tentativas de relacionamento pós balada há tempos. Essa coisa de amor, deixava como inspiração apenas pra seus romances, já havia chegado à idade da razão. Romances em sua vida? Não precisava deles, definitivamente, apenas em seus livros.

Já em casa, após um banho relaxante, observava nu, encostado em sua janela no décimo andar a serenidade da noite. Eram quase 5 da manhã, e o clarão da lua iluminava o quarto, refletindo sob a escrivaninha um porta-retrato, ele e mais cinco amigos com uma cachoeira ao fundo. O último encontro, antes que cada um seguisse seu caminho na vida. Depois daquele encontro nunca mais se viram, trocaram alguns telefonemas, e-mails, mas o contato foi se esvaindo com o tempo. Ele gostaria de voltar ao passado às vezes, mas logo pensava que era sentimentalismo bobo. Afinal era feliz. Feliz sozinho!     

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O BEIJO





Andei pensando esses dias sobre um assunto que já deu o que tinha que dar, o famigerado beijo gay. Nunca me pronunciei sobre o assunto por pura preguiça, foi tão falado, debatido, reivindicado que cansou minha beleza. Eu realmente não achava primordial que rolasse um beijo entre personagens gays apaixonados em uma novela, embora acharia muito legal se acontecesse. Porém, penso que não são todas as tramas envolvendo casais do mesmo sexo que pedem que o romance seja selado com um beijo apaixonado. O beijo não deve ser inserido de qualquer maneira, só pra ser esfregado na cara de telespectadores incautos e preconceituosos. Tem que ter todo um histórico romântico, tipo amor impossível, que ao final, depois de todos os percalços brinda-se com a cereja do bolo, o beijo.


Por que pensei nisso agora?

Três fatores me levaram a escrever esse texto: o final de Sangue Bom, novela das sete que terminou semana passada; uma entrevista do novelista Sílvio de Abreu pra um canal virtual e o selinho trocado entre dois homens no programa Amor e Sexo da última quinta-feira (07).

Na novela, formou-se no último capítulo três casais gays, dois masculinos e um feminino e obviamente não houve beijo de nenhum dos três, mas a história que se desenhou durante a trama, envolvendo os personagens Filipinho e Xande foi delineada de tal maneira, que a troca de um beijo entre os dois seria muito legal de se ver. Foi tudo extremamente discreto e quase velado entre os dois, tanto que um telespectador menos atento mal perceberia que os personagens tinham algo além de pura amizade. A história: Filipinho era um garoto sensível e delicado que ainda não se descobrira gay e Xande, um rapaz hétero de caráter meio duvidoso, que nunca perdia a oportunidade de fazer bulliyng com Filipinho. Com o decorrer da trama percebemos que Filipinho gosta de Xande, esse porém namora garotas. A amizade entre os dois se estreita e Xande, antes um oportunista, começa a se tornar uma pessoa melhor influenciado por Filipinho, que por sua vez passa por diversos problemas pra aceitar e assumir sua sexualidade e acaba deixando de lado o sentimento por Xande, acreditando que como hétero ele jamais o corresponderá. Após resolver suas questões e aceitar-se como é, Filipinho reencontra Xande e se surpreende com uma declaração apaixonada do cara de quem gostou o tempo todo. Diferentemente da trama anterior de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, TiTiTi, onde o casal gay mais lindo da tele-dramaturgia, Julinho e Talles,trocavam muitos carinhos e demonstravam grande paixão, Filipinho e Xande formaram um casal insípido, sem conflitos pra assumirem seu amor e zero demonstração de estarem apaixonados, portanto, mereciam dar ao público que torceu por eles um fechamento digno e emocionante, selando a união com um beijo rápido, simples e sem alardes, coerente com o comportamento de ambos durante toda a trama. E também diferentemente de Talles e Julinho, que já demonstravam tanto amor que um beijo não faria diferença, eu quis ver um beijo entre Xande e Filipinho, me fez falta como nunca em outras novelas.

Aí, depois do falastrão Aguinaldo Silva dizer que o tal beijo nunca vai aparecer em nenhuma novela, que não precisa e coisa e tal, assisto uma rápida entrevista com Sílvio de Abreu afirmando o mesmo, que é uma bobagem, que não tem necessidade, que o público não quer ver e blá blá blá. Que é uma bobagem a discussão em torno disso, até concordo, que é desnecessário, pode até ser, mas que o público não quer ver, pera lá cara pálida! Que público que não quer ver? A grande maioria conservadora, preconceituosa e hipócrita? Ok! Mas, e a outra fatia do público? O gay que é louco por uma boa novela, e quase todos são (eu me incluo nessa)? As gentes descoladas, esclarecidas, cabeça aberta? Esse público existe, mesmo sendo em número menor e se dividem entre os que querem ver sim e os que não dão a mínima importância com uma cena de beijo entre iguais. E penso que como detentores de uma parte da audiência também deveriam ser respeitados em seu desejo assim como a maioria. Ou alguém imagina uma novela inteira sem ao menos um beijo trocado entre o casal protagonista? E se o beijo hétero aborrecesse e ferisse os valores dos telespectadores gays? Dane-se né, é apenas uma minoria. Pra mim é apenas uma questão de respeito, e esse sim precisa ser forçado.

Aí, pra mostrar que não é nada preconceituosa (e eu acho que não é mesmo, é tudo apenas uma questão de manter as aparências), vem a Globo e mete um selinho gay, sem quê nem mais, depois da meia-noite no Amor e Sexo de Fernanda Lima. Sem história, sem contexto, sem nada, só pra mostrar que aceita todas as formas de amor. Mas não é isso, não é simplesmente ver um beijo gay na Rede Globo de Televisão que nós queremos. Isso eu vejo na boate, nos filmes. Queremos que esse público conservador veja e encare com naturalidade, como encaram o beijo do casal protagonista, sem medo nem dor, sem asco nem pavor,apenas mais uma dentre tantas demonstrações de amor, e isso só vai acontecer quando formos representados por um beijo de novela.   

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A ÚLTIMA GOTA DE "SANGUE BOM"





Foram 160 capítulos, acompanhados religiosamente desde o primeiro, exibido em 29 de abril. Sangue Bom foi a melhor novela do ano pra mim. Como numa orquestra, meus queridos autores Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, regeram magistralmente uma história engraçada, crítica, dramática e romântica com um texto típico para o horário das sete da noite, ácido e irônico, porém "soft".






Sangue Bom foi uma novela sem barriga, facílima de ser acompanhada, sem enrolações. Tudo muito bem costurado, com personagens carismáticos, feitos sob medida pra fisgar o coração e a simpatia ou antipatia do público. Sempre vai ter quem torça o nariz e diga que a novela não foi tudo isso, mas Sangue Bom tinha um astral tão bom, uma harmonia perfeita, como eu gosto de ver em novelas. Pra mim tudo funcionava, os cenários coloridos e luminosos, os diálogos afiadíssimos, os ganchos, a trilha sonora e a metalinguagem sempre tão presente e extremamente divertida. Esses dois últimos, aliás, foram ingredientes fundamentais.



Vimos em Sangue Bom as mais diversas referências aos programas da emissora, principalmente à outras novelas de grande sucesso como Cheias de Charme, Senhora do Destino e Avenida Brasil, com essa última, aliás, os autores deitaram e rolaram. Na figura de Tina (Íngrid Guimarães), eles fizeram uma grande homenagem a recentemente finalizada trama de João Emanuel Carneiro, um sucesso incontestável do ano passado que em sua versão satirizada nos fez dar muitas gargalhadas. Íngrid Guimarães se esbaldou com sua tresloucada Tina e foi à forra em cima de Bárbara Ellen (Giulia Gam em mais um momento brilhante). Uma das cenas mais deleitosas envolvendo as inimigas Tina e Bárbara foi quando dentro da própria sátira de Avenida Brasil os autores satirizaram outra memorável novela, Vale Tudo de Gilberto Braga. Em um devaneio, Tina pega uma arma dentro da gaveta do criado-mudo e ao ver o vulto de Bárbara se arrumando dentro do closet ela atira através da porta, estilhaçando-a com três tiros e assassinando Bárbara Ellen, fazendo-nos rememorar a clássica cena do assassinato de Odete Roitman (Beatriz Segal) cometido por Leila (Cássia Kiss). Nesse momento, a sensação era de que estava assistindo três novelas em uma. Vincent e Adelaide conseguem fazer essas junções com maestria.





A trilha sonora não podia ser mais apropriada, jovem, clássica, romântica e moderna, casava perfeitamente com cada momento em que era executada. Os acordes de "Toda forma de amor", tema de abertura que é um hino, um mantra, uma ode ao amor, a liberdae e a tolerância, "Janeiro à janeiro", "Poema", "Calma aí", "Jacarandá", "Zoião" e "Exagerado" sempre que tocavam pra seus respectivos personagens Amora e Bento, Rosemere e Perácio, Renata, Malu, Fabinho e Tina e Damáris eram sempre perfeitos. Tina e Damáris, além de dividir o mesmo tema musical, também compartilhavam da mesma loucura, às vezes era difícil saber quem era mais louca e mais apaixonante, na dúvida dou empate técnico, ambas estiveram esplendorosas com suas personagens cômicas, malucas e exageradas. Mas voltando as trilhas, Sangue Bom lançou 3 cd's, dois com as músicas nacionais e o terceiro com os temas internacionais, onde se destacaram "Guardian" na voz doce de Alanis Morissette para a igualmente doce Verônica de Letícia Sabatella, que sempre serena, ponderada e amável, pareceu-me interpretar alguém muito próxima de sua personalidade real. A deliciosa "Ho Hey" de The Lumineers para Bento e Amora; a linda "Some Nights" (Fun) como tema geral; "Home" (Phillip Phillips) embalando o amor entre tapas e beijos de Giane e Fabinho; "Feel So Close" (Calvin Harris) para os delírios de consumo de Amora; a regravação de Jesuton para "Because You Loved Me", tema romântico de Charlene e Wilson e a sensual "Madness" do Muse, dando um toque de sofisticação à toda a trama. Tudo de encher os ouvidos e a alma.






O elenco também foi um achado. O sexteto de protagonistas bem jovens, fez bonito e não deixou a peteca cair. No início, antes da estreia, me incomodou um pouco, lembrando demais um núcleo de Malhação, em especial Sophie Charlotte e Marco Pigossi que haviam saído de trabalhos recentes muito marcantes e também como um casal em Fina Estampa, me fizeram esquecer completamente seus personagens anteriores nos primeiros instantes que apareceram em cena como o bondoso e generoso, Bento de Jesus e a ex-menina de rua de caráter duvidoso que se tornou uma famosa it-girl, Amora Campana. Fernanda Vasconcelos, apesar de não ser minha atriz predileta, fez uma Malu correta, íntegra e cativante, bem como Jayme Matarazzo, que mostrou um nítido amadurecimento na pele de Maurício Vásquez, apesar do eterno rostinho de menino frágil, defendeu com verdade seu sincero e transparente personagem. Sem falar na minha dupla preferida, a "maloqueira", esquentada e leal Giane, feita pela linda e talentosa Isabelle Drummond, que num processo gradativo de transformação passou de uma garota sem vaidade, platonicamente apaixonada por Bento à charmosa e cobiçada modelo de campanhas publicitárias e aspirante a fotógrafa disputada por dois caras lindos, sendo um deles o sexto elemento desse grupo de protagonistas, o meu sonho de consumo Humberto Carrão, que arrasou como o detestável Fabinho Queiroz do início da história trilhando um caminho tortuoso até acabar rico, redimido e regenerado ao lado de seu grande amor, Giane. A única coisa difícil de engolir nessa história toda, foi um detalhe que passou batido pelos autores e na minha opinião foi um erro crasso. Fabinho era um bandido no início da trama e pra conseguir seus objetivos cometeu diversos delitos, entre eles roubar uma moto e falsificar um diploma de publicitário, o que lhe possibilitou estagiar na grande e badalada agência de Natan Vásquez (Bruno Garcia), onde ele mostrou que tinha talento, porém ele nunca estudou nem muito menos se formou em publicidade. Os autores passaram por cima desse fato que não é pouca coisa e simplesmente transformaram Fabinho em dono de sua própria agência como sócio de Érico (Armando Babaioff). Como assim, Brasil? Bem, apesar de não ser um erro bobo, relevemos, afinal em novelas quase sempre lança-se mão da licença poética, que existiu também em Avenida Brasil, no episódio do pen drive de Nina que nunca existiu e nem por isso a trama perdeu seu brilho, além do mais sigamos o conselho da sábia Glória Perez "é preciso voar". E foi tão bom voar com Sangue Bom!






Entre o extenso elenco presente nesse mimo das sete, brilharam todos de forma quase imparcial. Em meio a coadjuvantes novos e veteranos, destaque especial tiveram Malu Mader, num papel menor do que merecia, mas digno de seu talento e carisma onipresente, Malu ainda é diva e sempre será, sua Rosemere foi um bálsamo e uma felicidade diária para os fãs apaixonados como eu, mas só voltará a ter um papel à altura da musa que é quando voltar a trabalhar com seu outro eterno apaixonado Gilberto Braga. No papel de seu filho Filipinho, o novato Josafá Filho, em sua segunda novela, também se destacou, protagonizando um debate interessante sobre assumir a sexualidade em meio ao circo da mídia ou omitir sua real condição pra manter as aparências diante de um público que espera uma postura contrária à sua verdadeira essência. Yoná Magalhães á muitos anos sem ganhar um bom papel, desde Paraíso Tropical em 2007, defendeu sua sofrida Glória com toda a elegância peculiar à uma dama da tv. Ellen Roche, cheia de carisma e simpatia transformou a mulher-mangaba, Brunetty, que tinha tudo pra cair na vulgaridade, numa figura tão doce quanto seu apelido, quase infantil e carente e reiterou meu carinho por essa mulher exuberante, linda, gostosa e boa atriz também. Marisa Orth me ganhou de vez com Damáris, ela é engraçada da cabeça aos pés, até sem querer, e construiu uma personagem detestável, cheia de preconceitos, hipócrita, reprimida, recalcada e totalmente adorável, tarefa difícil que não é pra qualquer um e La Orth fez com os pés nas costas. Seu partner, Joaquim Lopez, também não fez feio, pelo contrário, foi uma grata surpresa, Lucindo era real, quase palpável, um cafajeste de primeira ou de quinta, mas com um "borogodó" e um coração gigantes, com jeito de malandro e cara de safado irresistíveis, acho que foi a grande revelação da novela. Teve também a ruivinha Bia Arantes como Cléo, um papel modesto, mas sempre que aparecia enchia a tela com seus cabelos cor de fogo e sua pele cor de leite. E a divina-maravilhosa Carmen Verônica, roubando todas as cenas em que aparecia na pele da esperta milionária Karmita Lancaster, que entrou na história pra fazer alguns capítulos e acabou ficando até o fim tamanho o apelo popular de sua personagem, sempre com um conselho oportuno, uma palavra ou um causo contado na hora certa. Não posso deixar de citar também a iluminada Andréia Horta, atriz que amo de paixão e teve uma importância fundamental na história, mesmo entrando na reta final, para promover a redenção de sua irmã Amora, protagonizando uma das mais tristes e emocionantes cenas da novela.






Como já disse, muitos brilharam nesse elenco estelar, mas citar todos deixaria o post longo demais e eu já tô me despedindo, com a certeza de que uma nova novela que vai me dar vontade de não perder nenhum capítulo e me fazer sentir como se fizesse parte daquele universo, vai demorar um pouco pra estrear novamente. Até lá fica a lembrança boa de uma história tão especial e a saudade! 



                                                  FIM