terça-feira, 31 de dezembro de 2013

CINEMA, LITERATURA E TEATRO EM 2013


Em termos de vida cultural, esse ano foi bem bacana. Mantive meu interesse de sempre por cinema, teatro e literatura, mas por causa do ingresso na faculdade pude participar de alguns eventos bem legais com famosos e renomados artistas da música e da literatura. Esse foi o ano de conhecer pessoalmente escritores como Andrea Del Fuego, Marçal Aquino, Daniel Galera, Ivana Arruda Leite e a cantora Adriana Calcanhoto - que se aventurou na literatura em 2008 com o livro "Saga Lusa" - em bate-papos descontraídos nos encontros semanais da Biblioteca São Paulo (BSP), que aconteciam todos os sábados pela manhã.

Curti também um show maravilhoso de Ângela Rô Rô na Virada Cultural, que aconteceu no palco do belíssimo Teatro Municipal. Conheci a dramaturga Maria Adelaide Amaral, de quem sou fã de carteirinha, em um outro bate-papo descontraído, mediado pelo dr. Drauzio Varella, no anfi-teatro da Livraria Cultura. Uma delícia sem igual! Também na mesma livraria participei de uma noite de autógrafos com a simpaticíssima cantora, que adoro, Vanessa da Mata, no lançamento de seu livro "A filha das flores".

Mas os filmes, os livros e as peças foram as vedetes de 2013. Abaixo uma pequena lista do que assisti e li esse ano:

Cinema: 
1- As aventuras de Pi, lindo, emocionante, magnífico!
2- Minha mãe é uma peça - o filme, engraçadíssimo do início ao fim. Melhor filme brasileiro de 2013!
3- Cabeça do cachorro, documentário do médico Drauzio Varella sobre uma comunidade no Brasil que vive como índios, quase à margem da sociedade. Interessante!
4- Amor pleno, filme-arte, chato.
5- The bling-ring - A gangue de Hollywood, bom, mas poderia ser melhor.
6- Jobs, gostei, mas esperava bem mais. Poderia ter tido um maior desenvolvimento.
7- Rush - No limite da emoção, filme excepcional sobre um assunto que nunca gostei, fórmula 1. Excelente!
8- O tempo e o vento, a clássica e antiga saga de Erico Veríssimo adaptada para as telonas sob a batuta de Jayme Monjardim. Resultado bonito!
9- Gravidade, o tão falado filme espacial de Sandra Bullock, muito bom, mas não tão bom quanto falaram.
10- Eu vou lhe dizer tudo, belíssimo filme norueguês, exibido no Festival Mix Brasil. Merece ser assistido!         
11- Sobre sete ondas verdes espumantes, documentário poético e emocionante, que também fez parte do Mix Brasil, sobre a obra do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu. Lindo demais!
12- Jovem e bela, cinema francês maravilhoso!
13- Las acacias, cinema argentino sempre surpreendendo positivamente.
14- A grande beleza, cinema italiano um pouco pretensioso, porém, inegavelmente belo.
15- Azul é a cor mais quente, premiado filme francês. É tudo o que falaram, mas com final um pouco decepcionante.      

Literatura:
1- Para sempre, romance americano previsível, adaptado pro cinema sem sucesso.
2- Barba ensopada de sangue, excelente lançamento de Daniel Galera.
3- Uma leve simetria, lindo e emocionante romance sobre o amor entre dois adolescentes judeus.
4- A última chance, romance espírita insuportavelmente clichê sobre gays e aids.
5- A cultura-mundo, leitura obrigatória do primeiro semestre do curso de Letras, mas uma ótima leitura, obrigatória pra vida, nesse mundo consumista e plastificado.
6- City boy - Minha vida em Nova York, um passeio pela vida do escritor Edmund White no tempo em que viveu numa das maiores metrópoles do mundo.
7- A foto, sobre o mundo da moda, vaidade e suas futilidades. Contemporâneo. História razoável.
8- Conversas com um jovem professor, didático. Leitura obrigatória do segundo semestre, mas muito bom pra quem se interessa pelo universo professor/aluno.
9- Édipo-Rei, mitologia grega, clássica, super conhecida e fascinante.
10- Refém da obsessão, romance sobrenatural. Ótimo entretenimento.
11- A garota do penhasco, uma saga familiar cheia de mistérios e apaixonante. Ainda lendo.

Teatro:
1- Esta criança, das que assisti, a melhor do ano. Histórias fortes interpretadas pela sensacional Renata Sorrah.
2- Contrações, perturbadora peça com Débora Falabella. Muito boa!
3- Um porto para Elizabeth Bishop, um monólogo de pura emoção com a talentosa Regina Braga. Maravilhoso!
4- Garotos da noite, sobre prostituição masculina, drogas e sonhos. Ótima montagem e elenco de babar!
5- Bem-vindo, estranho, um suspense noir, protagonizado por Regina Duarte, esfuziante e surpreendente em cena. Fechando a temporada teatral do ano com chave de ouro.

E que 2014 venha com muitos, muitos, mas muito mais filmes, livros e peças. Que a arte e a cultural nunca tenham fim!              
 

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

RETROSPECTIVA 2013: DEZ ANOS EM UM


E estou aqui pra clássica retrospectiva do ano, mas dessa vez mais que relembrar os momentos legais e importantes, fazendo um apanhado geral do que foi 2013 pra mim, é da última década que quero falar. Um "tour" rápido pelas mazelas que vivi nos últimos dez anos pra chegar até aqui, e que olhando pra trás parece muito tempo, mas na prática foi um sopro. Será que cheguei onde queria? Consegui realizar algum sonho? Alcançar algum objetivo relevante? O que mudou efetivamente nesses dez meteóricos anos? Será que foi tempo suficiente pra atingir minhas metas? Teoricamente, mesmo que passe ligeiro, 10 anos é tempo pra se fazer muita coisa. E mesmo que hoje eu ainda não esteja exatamente onde quero e como quero, galgo o caminho que eu mesmo escolhi persistente e insistentemente há dez anos, de forma incansável. Às vezes dando uma descansadinha aqui, outra ali pra recuperar o fôlego, mas nunca pensando em desistir. Contra toda a falta de apoio e incredulidade, estou mais perto do que jamais estive do que sempre almejei ser, ter e fazer como objetivo de vida e felicidade.

O pontapé inicial foi dado no dia 09 de março de 2003. Saí da casa de meus pais no interior do Rio Grande do Sul pra ganhar a capital Porto Alegre e o mundo, meu mundo ideal. Encarei a rotina de um casal de idosos, amigos da família, que me acolheram por uns tempos até eu poder pagar meu próprio aluguel e iniciar o curso Técnico de Nutrição. Um breve desvio no meu caminho, que ambicionava a faculdade de Letras ou Jornalismo, porém a grana disponível só dava pra um curso técnico. Vislumbrando um salário razoável como nutricionista técnico, o que proporcionaria lá na frente o desejado curso superior, comecei os estudos. Foi bom. O curso era interessante, agradável e focava quase que exclusivamente em algo que adoro, comida. Aprendi muitas coisas legais, fiz estágios bacanas e tive até um bom emprego por um período bem curto, mas não era minha vocação, nunca foi. Meu pensamento estava sempre no sentimento humano e em escrever sobre ele. Era meu hobby de todas as horas, escrever, escrever, escrever.

Naquele ano conheci pessoas que carrego no peito até hoje, uma em especial, Maristela Braga. Vivi momentos de puro tormento na casa em que me hospedava, até após três meses conseguir me livrar de regras idiotas e uma má vontade gigante. Fui morar pela primeira vez verdadeiramente sozinho em um quarto que me dá arrepios de lembrar, ratinhos me faziam companhia frequentemente. Era péssimo? Sim. Mas era o que eu podia pagar. Eram minha rotina, minhas regras, minha independência. E a sensação de ser dono do próprio nariz é maravilhosa, ainda mais eu que sempre fui filho único, super protegido, criado pra sair de casa apenas e somente casado. Vivia algo que sempre desejei internamente desde muito cedo, mas nunca comentei em casa sobre. Saí da redoma de vidro da casa de meus pais sobre protestos e chantagens emocionais, por parte de minha mãe, é claro, porque meu pai nunca ligou muito pra isso, talvez tivesse ficado um pouco triste, mas nunca fez drama. Então estava eu lá, aos 21 anos de idade, morando com ratinhos, tendo como vizinhos de porta: um bêbado que tinha cirrose e todas as noites sofria com uma crise terrível de tosse, me fazendo custar à dormir; uma velha ninfomaníaca que queria transar a todo custo todas as noites com seu velho que já tava praticamente brocha, e não conseguindo saciar seus desejos, desfiava um rosário de xingamentos pra lá de obscenos pro pobre coitado, que morria de vergonha dos vizinhos e ficava em silêncio só ouvindo os desaforos da velha tarada, e um pedreiro que me tentava todas as noites com propostas bem ousadas, tal qual o mecânico de Amor à Vida que não deixa o Félix em paz. Nesse mesmo ano fiz estágio em dois hospitais e consegui ser dispensado dos dois. Me mantinha com inacreditáveis $300 reais, pagava o curso, as passagens e o aluguel. Foram tempos difíceis, mas sobrevivi.

No ano seguinte, 2004, conheci Rafael, Eduardo, Leo e Marcelo, pessoas que me apresentaram a noite Porto Alegrense, pois aos 22 anos eu ainda era um menino bem comportado, não conhecia os prazeres noturnos e otras cositas. Me endividei com o curso. Fui morar com uma gente horrorosa que transformou minha vida num inferno e nesse inferno acabei me libertando, pois aos 23 anos, sem suportar mais tanta maledicência disse à minha mãe com todas as letras o que já era óbvio pro mundo inteiro, mas ela não queria acreditar: "eu sou gay". Tudo finalmente esclarecido depois de duas décadas e um terço, entro na reta final do curso. Faço o estágio curricular. Arranjo emprego no hospital da cidade onde meus pais moram e me vejo obrigado a voltar pra casa deles, que nunca deixou de ser minha. Mas eu queria Porto Alegre, sempre quis. Sou bicho de cidade grande, "urbanóide" cosmopolita e sempre amei Porto Alegre. A capital do meu estado pode não ser a mais linda, mas é apaixonante. Volto contrariado e triste pra cidade de gente fofoqueira e medíocre, pra alegria de minha mãe. Inconformado, aos poucos começo a me adaptar ao trabalho, o que era difícil de engolir era a falta de cinemas, teatros, parques cheios de gente aos domingos, cafeterias, livrarias, gente interessante. Pra compensar tinha o mar, mas mesmo com toda sua imensidão era muito pouco pra mim. O reveillón daquele ano foi um barato, Eduardo e Rafael passaram comigo e fiquei muito amigo de Fernando naquele 31 de dezembro de 2004.

Com a chegada de 2005, sou demitido após o período de experiência, em fevereiro. Fiquei revoltado por ter sido vítima de picuinhas e fofocas, mas empolgado com a possibilidade de voltar à Porto Alegre e conseguir uma colocação lá. Fernando se torna meu melhor amigo, fazemos muitos passeios noturnos pela praia. Ele dorme em casa, eu durmo na casa dele, fazemos planos, tecemos sonhos de um dia sair daquele lugar infrutífero e assim vamos vivendo nossa vidinha pacata, sem grandes acontecimentos, mas nos agarrando um à companhia do outro. Até que por um golpe de sorte meu pai é transferido de seu emprego pra Porto Alegre. Minha alegria não cabia em mim. Voltar à minha amada capital sem precisar passar por todos os perrengues de viver sozinho, era bom demais. Minha mãe não aceitou, sempre odiou cidades grandes com todas as forças, mas dessa vez as circunstâncias eram inquestionáveis, ela teria que aceitar, ou ficaria sozinha naquela praia deserta. Pois a danada não foi. Alegou que esperaria o ano terminar e mudaria no ano seguinte quando tudo estivesse estabilizado. Eu e meu pai partimos em junho. Eu mesmo arrumei tudo, o lugar pra morarmos e todos os detalhes da mudança. Sem pressa de conseguir qualquer emprego pra sobreviver, comecei a procurar calmamente. Meu pai vivia de casa pro trabalho, do trabalho pra casa com saudades da minha mãe. Eu me jogava. Mas o que era bom durou pouco, não sei se foi macumba, pensamento negativo da minha mãe ou apenas azar o meu, mas meu pai foi demitido, o que o fez voltar correndo pra casa na praia, me deixando só novamente. Pra mim era uma questão de honra não voltar, e não voltei. Em dezembro consegui o emprego num restaurante uruguaio e consegui continuar às minhas próprias custas em Porto Alegre. Logo na entrevista conheci Ricardo, aquele que veio a ser um grande amor. Por Ricardo os três meses seguintes foram mágicos, mas depois desse período saí do restaurante, onde conheci também Milena, Cristina, Jonathan, Marise, Alexsandro, Liliana e mais um bocado de gente pra lá de especial, 2006 foi o ano das pessoas especiais, algumas permaneceram outras desvaneceram. 

Do restaurante fui trabalhar em um café colonial, onde conheci meus novos e queridos patrões, que se tornaram amigos do coração, Mara e Paulo. À essa altura eu já não atuava mais como técnico, depois que saí do hospital no litoral, desisti da profissão, resolvi focar no que sempre quis, mas emprego pra garçom e atendente nunca falta e meu currículo chamava a atenção. Então lá fui eu servir mesa por um bom tempo, odiando tudo aquilo com todas as forças, sonhando com meus contos, crônicas, poesias e prosas. O dinheiro nunca dava pra nada além do aluguel, roupa e necessidades pra lá de básicas. Queria e precisava fazer inglês, mas nunca chegava o suficiente, queria guardar um dinheiro no banco pra qualquer eventualidade, mas parecia piada, pagar a faculdade então nem pensar, prestar uma pública não passava pela minha cabeça, nunca fui muito fã de ficar debruçado horas e horas em cima dos livros e nem teria tempo pra isso. Precisava era de grana pra pagar pelo meu sonho. No final do ano, lá por setembro, me demiti. Depois de seis meses não aguentava mais àquela vida improdutiva. Pela primeira vez optei por voltar pra casa dos meus pais, já não tinha mais forças pra tentar a vida em Porto Alegre sozinho, sem a ajuda e o apoio de ninguém. Meus pais viviam a vidinha deles e financeiramente não podiam fazer muito por mim, coitados. Assim voltei e em dezembro daquele ano comecei a trabalhar como temporário no maior mercado da cidade, a rede Wall Mart. Depois de três meses e sem emprego mais uma vez resolvi tentar a sorte em outras paragens. Em março de 2007 mudei-me pra casa de uns parentes em Curitiba. Vivi por lá seis meses, foi uma das piores escolhas que fiz. Lugar chato, sem graça. Tirando os parques cercados de verde e laguinhos por todos os lados, não tinha mais nada de fascinante na cidade. Trabalhei em uma clínica no período que estive por lá, mas foi um dos piores empregos que já tive. Nada fluiu, foi tudo péssimo, exceto a companhia do meu tio Jeovani, uma figura divertidíssima com quem dividi o mesmo teto e muitas gargalhadas, filmes e séries enquanto morei na capital do Paraná.            

Em outubro daquele ano, retornei ao litoral do RS, e foi um dos momentos mais maravilhosos da minha vida. Sair de Curitiba e voltar pra minha terra foi uma sensação indescritivelmente agradável, até o céu da cidade parecia mais bonito, mais azul. Novamente trabalhei no Wall Mart naquele fim de ano, dessa vez com a promessa de uma efetivação, o que no fundo eu desejei. Já estava cansado de viver sozinho em Porto Alegre e batalhar sem resultados, longe do conforto de casa. Então me resignei e decidi ficar no interior com meus pais por tempo indeterminado, mesmo tendo a certeza de que meus sonhos jamais seriam realizados ali. Mas o trauma de minha passagem por Curitiba me fez mudar alguns conceitos. Aceitar que não adiantava dar murro em ponta de faca , o que tivesse de ser, seria.

Com o término da temporada de verão em 2008, minha efetivação não veio e fui dispensado do hipermercado. Tive uma ligeira decepção, que demorou pouco a passar. Logo estava eu de novo fazendo planos para sair daquela cidade insuportável. Nesta última temporada de Wall Mart me relacionei com pessoas incríveis: Rodrigo, Carine e Bruna foram os principais. Em março eu estava de volta à Porto Alegre, mas dessa vez eu estava diferente, mais maduro, mais consciente, mais feliz. Fiquei hospedado por um mês na casa de Verônica e Sheila, duas amigas que se mostraram uma bênção na minha vida, mas logo senti necessidade da minha privacidade e liberdade. Aluguei uma kitnet no centro da cidade, perto do meu trabalho, uma cafeteria argentina em um dos bairros nobres da cidade. O café era um sonho, mas o trabalho, depois de um tempo tornou-se um pesadelo. Nesse ínterim conheci pessoas e vivi momentos que fizeram àquele ano ser um dos mais memoráveis pra mim. Murilo se tornou meu grande amigo. Depois seu namorado, João. Carine me visitou algumas vezes. Bruna também mudou-se pra Poa. Rita foi um acontecimento na minha vida. E pra fechar o ano tive o privilégio de conhecer Bianca e Lauren, duas queridas, que me fizeram lançar um novo olhar pra vários ângulos da vida. Em dezembro me demiti da cafeteria argentina, pra assumir a sub-gerência de um café num cinema de shopping. Promessa de um emprego maravilhoso que não durou um mês.

No início de 2009, vivi uma das piores faces da minha vida. Desempregado e sem um centavo no bolso, tive que me virar nos 30 pra não passar fome. Um detalhe de 2008 muito importante, que esqueci de comentar, meus pais se pararam e foi um baque que me detonou emocionalmente, estragando grande parte das conquistas que tinha alcançado até aquele momento. Minha mãe veio morar comigo e foi desastroso. Nesse período de 2009 ela estava viajando quando passei pelo perrengue de ficar sem grana e sem trabalho e só quando não dava mais foi que liguei pedindo pra que ela voltasse com urgência. Com sua volta, uma nova ideia brotou na minha cabeça cansada de tantos lutas sem sucesso. Eu queria sair de Porto Alegre, mas dessa vez em definitivo, pra um lugar promissor onde a possibilidade de retorno não me tentasse. Troquei muitas mensagens com uma amiga que estava em Portugal e cogitei a possibilidade de sair do Brasil, mas diante das implicações burocráticas e da grana que não seria pouca, descartei. Até que veio a ideia mais óbvia que eu nunca havia tido, tentar a sorte em São Paulo. Depois de mais uma tentativa frustrada de trabalhar num bistrô, por uma semana, em maio parti pra terra da garoa. Sem ter a mínima ideia do que faria por lá, mas cheio de boas expectativas. Se não desse certo em São Paulo, não daria mais em lugar nenhum, esse era meu pensamento, e não errei. Quando cheguei por aqui me adaptei de imediato. Passei 10 meses e fui obrigado a retornar ao Sul por problemas de documentação. Voltei, mas parti determinado a resolver minhas pendências no RS e retornar a SP assim que tudo estivesse sanado. 

Em março de 2010, estava morando novamente com minha mãe, que ainda estava separada do meu pai, numa cidade chamada Capão da Canoa. Não era mais aquela cidade horrorosa que nem gosto de citar o nome, mas também era praia e bem pequena. Voltei triste, com o coração partido, pois tinha me apaixonado por São Paulo, mas aquele um ano e três meses que vivi em Capão da Canoa com minha mãe foi um dos melhores da minha vida. Ali descobri e conheci tanta coisa e tanta gente, mas principalmente me conheci como nunca antes. Fiz profundos mergulhos dentro de mim e da minha personalidade ao mesmo tempo que fazia planos pra uma volta triunfal e definitiva pra Sampa. Sem contar nos momentos mágicos íntimos e familiares com minha mãe, nossa relação atingiu um outro patamar à partir daquela fase. Em agosto voltei a trabalhar no Wall Mart, acreditem se quiser, mas ali era uma das melhores opções de emprego, e não tenham dúvida que trabalhar lá é uma das piores coisas do mundo. Fiquei 8 meses e me demiti. Um mês e meio depois, após me despedir dos amigos queridos que ali fiz: Luísa, Daniel, Robson, Jennifer, Vagner, entre outros, voei de volta pra São Paulo. Onde cheguei no dia 19 de junho de 2011.

Desde então vivo aqui nessa cidade, que pra mim é a maravilhosa, até porque ainda não conheço a outra. E nesses dois anos e meio que aqui me encontro não parei de ralar, batalhar e correr atrás, como sempre fiz, só que com uma grande diferença, sinto uma evolução nos meus esforços como antes não sentia, e tudo aqui me empolga, me impulsiona e me surpreende o tempo todo.

Nesse ano de 2013, em que fazem 10 anos da minha longa estrada solitária, finalmente consegui ingressar na universidade. Foram necessários 10 longos anos pra isso e muita perseverança, mas tô aqui. E eu não vou olhar pra trás com tristeza por não ter conseguido isso antes, por teoricamente, ter perdido tempo demais. Não perdi, ganhei. Fiquei amadurecido e sábio de coração. Não serei hipócrita de dizer que não preferia ter entrado muito antes, preferia sim. Mas foi assim que as coisas se sucederam comigo. E no meio de tantas pessoas imaturas e perdidas dentro de uma universidade, que agora eu vejo que tem muitas, que estudam e dividem comigo os bancos escolares, me sinto pleno de minhas vontades e desejos e cheio de uma certeza absoluta daquilo que quero e de onde quero chegar. E nesse ano de conquistas especiais andei ao lado de gente muito bacana. Foi o ano que conheci Celinha (Regina), Inácio Lisboa, Vânia, Valquíria, Carol Dias, Vanessa, Camila, Christiane, a criativa Jennifer, Denise, uma professora mágica de literatura, a Marcinha, o professor Murilo, uma grande inspiração e a dedicada professora Adriana. 

Tive a companhia agradável de minha amiga Luli, em vários jantares deliciosos em seu Ap. A vinda de Daniel pra São Paulo, mais uma vez, que resultou em muitos momentos legais de conversas, confidências e até desentendimentos. Passei a admirar cada vez mais meu colega de Ap., Alisson. Estreitei amizade com o sensacional Renato, um poço de papos-cabeça infindável. Também Maíra, uma louca adorável. Os amigos de sempre também estiveram presentes, João e Said, sempre agregando. Assisti filmes ótimos. Vi peças incríveis. Participei de eventos sensacionais. Li livros bons e ruins. Odiei meu trabalho mais do que nunca. Chorei a morte de uma pessoa querida que jamais poderia imaginar que partiria tão cedo. Tive momentos de terríveis angústias. Comecei a exercitar minha veia de escritor, crítico e resenhista pra um público maior, no super acessado blogue de entretenimento cultural Pop de Botequim, e isso me fez muito bem. E num apanhado geral, 2013 valeu muito à pena e pra que não reste qualquer dúvida de que 2014 promete, termino o ano com a promessa de um novo amor. Complicado e delicado, mas qual a graça do amor sem sua pitada de dificuldade.

"Valeu à pena. Sou pescador de ilusões!"      

sábado, 28 de dezembro de 2013

IRONIA





Eu não sei o que eu tô fazendo

Eu não sei o que eu tô pensando

Mas seria irônico se você me esquecesse

E eu acabasse me apaixonando.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

EI, MENINO!


Ei, menino! Por que a gente não se apaixona por quem se apaixona pela gente? Você disse que estava apaixonado por mim. Eu disse que não. Aí você voltou atrás, disse que também não estava mais.

Eu poderia me apaixonar por você, menino, mas agora tenho medo! Você sente rápido demais, põe os pés pelas mãos, se declara, pra pouco tempo depois se desmentir. Você é carente ao extremo, desastrado, hiperativo, distraído e menino. Tão menino! Mas foi o primeiro que me olhou com paixão, e isso mexeu comigo, mesmo você sendo tão menino.

Eu tenho 30, você 19. 

Sou ponderado, calmo, gosto de respirar e falar devagar, pausadamente. Você é elétrico, impaciente, atropela as palavras e fala pelos cotovelos. Somos tão diferentes, menino! E não sei se nesse caso os opostos se atraem. O que sei é que já te dei todos os motivos pra não termos um relacionamento e você pareceu concordar, mas as vezes acho que concordou apenas pra não se magoar. Quando tô perto de você sinto que alguma coisa dentro de ti me ama e me deseja de alguma maneira e isso me faz ter vontade de te amar também.

É aquela vontade de gostar de quem gosta da gente, retribuir o sentimento à altura. Mas, é tão difícil!

O fato é que te amo, menino! Mas parece fraterno, amor de pai, de irmão mais velho. Vontade de proteger, te guiar pelo melhor caminho, aconselhar, dar colo. Mas também desejo alguém que me proteja e não sei se você seria capaz de suprir tantas necessidades emocionais que habitam minha mente e meu coração. Você é só um menino, não deve se sobrecarregar com as carências de um homem de 30.

Ei, menino! Também tem a questão da libido. Se o que você sente por mim e o que eu sinto por você for só fraternal, não existe desejo sexual. Embora eu tenha sentido vontade de te beijar e a última vez que nos vimos achei que ia rolar, não o sexo, mas o beijo, as carícias, uma intimidade maior, mas você parecia que já tinha desistido de mim. E mesmo que o sexo não seja a coisa mais importante pra formação de um casal, e eu realmente acho que não é, alguma faísca tem que existir, você sabe, menino. Claro que você sabe. No vigor dos seus 19 anos suas faíscas estão crepitantes. As minhas é que já não andam lá essas coisas. Aí me pergunto: o ideal não seria um cara da minha idade, ou mais velho? Pra acompanhar o meu pique, que já não está tão pululante assim?

Ai, menino, ultimamente você tem me feito pensar tantas coisas. Não tô conseguindo simplesmente deixar acontecer, como tantos já me aconselharam. Achei que você era só um menino meio maluco e totalmente carente, que não significaria nada pra mim, mas você tem se feito presente todos os dias de alguma forma, até quando não liga ou deixa algum recado você tá sempre lá em algum cantinho da minha cabeça, me fazendo lembrar com uma felicidade inconfessa que existe alguém que gosta de mim, não como filho, amigo, colega, mas como homem, como ninguém nunca gostou, pelo menos não declaradamente. E nessas horas me sinto tão bobo, mais menino que você.

Normal sentir assim, afinal, sempre amei sem ser correspondido. E agora diante de você, da possibilidade do teu amor, eu temo. 

Estás longe de ser o homem que sonhei, mas pro inferno essa maldita idealização, relacionamento é construção. Mas não seria leviano da minha parte aceitar teu amor só porque és o primeiro que o declara com todas as letras? Você merece alguém que te ame muito, com paixão, com loucura. 

Você merece, menino! Porque você é bom, humano, generoso, inteligente, batalhador, trabalhador, engajado, inconformado, engraçado, divertido, puro, ingênuo, sonhador. Você é admirável e por isso eu posso vir a te amar, porque eu reconheço todas essas qualidades em você e até teus defeitos me parecem hilários e facilmente contornáveis. E também, porque eu tenho sentido saudade de você, da tua voz, do teu jeito, saudade de uma coisa que a gente ainda não viveu, quando eu acordo, quando saio pro trabalho, quando volto do trabalho. Ontem eu fiquei melancólico pensando em você, em como é bom saber que você gosta de mim de um jeito especial, mas talvez não conseguir corresponder. Ou começar a corresponder e ser tarde demais, você se desinteressar.

Ei, menino! Será que pode dar certo?

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

POEIRA DE ESTRELA



Refaço trajetos, lembranças, reviro o baú de memórias, na esperança de te reencontrar.

Fico parado na estação do metrô onde trocamos as primeiras palavras, palavras que me fizeram tiritar por dentro, mas eu não demonstrei, mantendo meu ar blasé. Fico parado ali na esperança de reviver aquelas sensações todas, mas não acontece, você não está ali.

Volto à rua numa noite escura, rua em que caminhávamos juntos todos os dias voltando do trabalho. Você sempre chegava em casa antes, mas fazia questão de me levar até à esquina. Refaço nossos passos, olho tua antiga e velha casa e controlo a vontade flamejante de bater na porta esperando ansioso você vir abrir. Você não virá.

Revivo insistentemente o momento mais terno de nós dois, você me acompanhando cuidadoso e cauteloso até o médico, depois que passei mal no trabalho. Nos meus sonhos mais doces você segurava minha mão. Fecho os olhos bem forte pra sentir seu toque, mas é inútil. Você nunca segurou a minha mão.

Seu sorriso dança nos meus pensamentos. Os olhos matreiros por trás das lentes discretas me absorvem. Até as feiosas entradas se tornam irresistivelmente charmosas. Lembro da tua frieza, tua dificuldade de amar e principalmente de ser amado. Teu medo do meu sentimento. 

Aperto o play da minha memória e ouço de novo tuas confissões, me contando que já recebeu dinheiro por sexo; que já tinha experimentado várias drogas, mas era só usuário de maconha; a forma como usava as pessoas pra obter prazer sem sentir um pingo de culpa e me dizendo com jeito de menino arrependido que não valia nada, que era um puto inconteste. Era como um aviso: eu não valho à pena!

E eu queria me convencer disso, deixar de sentir essa coisa profunda, amável e apaixonante que eu sentia por ti, mas não saía de mim. E o resultado foi um coração partido mais uma vez, não por falta de aviso, mas por falta de consumação. Talvez eu não tivesse me importado de sofrer se você não tivesse sido só um sonho, uma ilusão. Eu seria feliz apenas com as lembranças, se elas não fossem só conjecturas.

Você me deu muito pouco, e fiz desse pouco uma imensidão. Hoje revisito minhas memórias, refaço nossos poucos caminhos, volto àquela estação, à rua, ao hospital. Sua imagem é miragem, neblina onde mergulho e me perco na imensidão utópica dos meus devaneios, me arrasto, me debato, me martirizo, porque agora e pra sempre não tem mais jeito, você será apenas memória.