sexta-feira, 28 de junho de 2013

FOTOGRAFIA


 Hoje, eu roubei tua foto.

Aquela que você está abraçado com a nossa melhor amiga.

E fiquei olhando pra ela, pra tua imagem, por um longo tempo. Analisando cada detalhe, cada traço do teu rosto, da tua expressão.

Meus olhos tontos passearam pela tua tez tão branca, teu nariz fino e proeminente, teus óculos de grau, o sorriso discreto de lábios cerrados, teus braços magros, tua camisa preta de listras brancas horizontais, reparei na luz da fotografia cinza, em tudo que estava ao seu redor e em nossa amiga te abraçando tão carinhosamente. Senti inveja. Você nunca quis tirar uma foto assim comigo. Fugiu de todas as tentativas. Deu desculpas, avacalhou as fotos. Como se uma foto ao meu lado pudesse "queimar teu filme" de alguma forma. Magoou-me, apesar de sempre afetuoso.

Eu só queria uma lembrança, pra quando estivéssemos assim distantes. Uma lembrança duradoura e concreta, pra que eu nunca esquecesse o homem lindo que amei em silêncio durante tanto tempo.

E hoje, quando encontrei essa foto de você tão bonito, daquela época em que fomos tão felizes, apesar dos amores não correspondidos, convivendo diariamente no mesmo ambiente de trabalho, não pude deixar de achar graça. Você escapou durante tanto tempo de me dar sua lembrança eternizada numa foto, e no entanto, por acaso, acho esse retrato, que me faz voltar no tempo e reviver esse amor aqui dentro, no mais íntimo de mim. Tudo fica mexido, mas não sofro. É uma bagunça boa, na minha cabeça, estômago e coração. 

Não é só a imagem de um rosto perfeito que amei. É o resgate de todas as sensações experimentadas, da dor e da delícia de amar sem ser amado.   

Não, definitivamente não é só uma imagem congelada. A fotografia tem movimento, e eu vejo todos eles, como se estivesse atrás da câmera antes do "click" e depois também, e eu já nem estava mais lá, ela foi tirada depois que eu saí de cena, depois que me retirei com meu amor atravessado na garganta. Mas eu olho a foto e vejo todo o movimento. Vejo você reticente, porque realmente não gostava de tirar fotos. Vejo você gracioso, cedendo. E vejo uma porção de sentimentos dançando no ar.

Lembro da canção de Leoni: "e o que vai ficar na fotografia são os laços invisíveis que havia..."

Laços invisíveis, mas de uma profundidade tão avassaladora, que até hoje, tanto tempo depois me faz questionar: por que não eu?, lembrando outra canção do Leoni. Na verdade sei a resposta, mas não me importa mais. Agora você será sempre meu, vou poder lembrar e fantasiar esse amor que não foi, como eu quiser, porque hoje, eu roubei tua foto.  

quinta-feira, 13 de junho de 2013

AO AMOR QUE NÃO VEIO





Caro amor que não veio,


Hoje é dia dos namorados, mais um de tantos e tantos em que você não apareceu. Me vesti de ilusões e esperanças esperando por você, fiz planos, mas você não veio. 

Já faz tempo sabe, que espero, procuro, planejo, sonho, me iludo e nada. Acho que você seria feliz comigo. Podia aparecer assim, como quem não quer nada, meio sem compromisso, só pra ver como é, tirar a dúvida, experimentar.

Sou uma ótima companhia, lhe garanto que teríamos momentos incríveis. Tenho pensado em coisas muito românticas pra nós dois esse tempo todo que você está sumido, sem dar sinal de vida. Fico idealizando momentos mágicos, únicos, inesquecíveis, passam como um filme na minha cabeça, sempre acompanhados de uma trilha sonora especial. Coisa de gente boba romântica, apaixonada pelo amor. Olha que loucura, sou apaixonado por você sem ao menos lhe conhecer! Apaixonado pela ideia do amor.

Se ao menos você aparecesse uma vez, poderia desfazer essas ideias romantizadas que tenho sobre você. Poderia me livrar dessa tortura de só imaginá-lo. Poderia ser uma droga. Mas enquanto você não vir, vou imaginá-lo da forma mais clichê e adorável possível.

Num jantar a luz de velas, as mãos entrelaçadas segurando cada um sua taça de vinho tinto, olhos nos olhos e um beijo quente com gosto de álcool e uva. De conchinha numa cama macia, envolvidos por um edredom de algodão, numa manhã fria e chuvosa. De mãos dadas na beira do mar. Cabeça no ombro naquela comédia romântica da sessão das oito. Flores, surpresas, bombons, bilhetes apaixonados em datas especiais. Ter aquela música só nossa. Parece tudo tão bobinho né? Mas são esses pequenos acontecimentos, aparentemente bobos, que escondem as coisas profundas do amor, e eu quero viver todas elas.

Quero perder o fôlego de tanta emoção. Quero morrer de prazer e renascer muitas e muitas vezes. Quero chorar de alegria. Quero sentir que alguém se importa de verdade comigo, só comigo, que seja alucinado por mim. Quero espalhar pedacinhos por toda a parte desse amor que em mim transborda. Dar e receber na mesma medida, ainda que isso pareça utopia. Um sempre ama mais que o outro, mas eu quero. Quero escrever poesia, me sentir leve todo dia. Buscar nosso café bem cedo na padaria.

Mas não precisa se assustar, eu quero que você venha, mas sem pressa, sem desespero, já passei dessa fase do desespero. Houve um tempo em que tive medo que você não viesse, achava estupidamente, que tinha um prazo delimitado pra sua chegada, que se não viesse depois daquela data, adeus amor, você nunca mais daria as caras. Que bobagem! Hoje, mais maduro, sei que você pode vir a qualquer momento, em qualquer idade. Então, estou calmo. Não tenho mais aquela ansiedade sôfrega de outrora, sei esperar, mas sinto sua falta.

Tenho um livro cujo título é "O Amor Esquece de Começar". Será verdade? Será que você esqueceu de mim. Já tenho mais de 30, procuro ser uma pessoa boa, honesta, agradável, sou carinhoso, gentil, educado, trabalhador, estudioso, falo baixo, sou tranquilo, divertido, gosto de bons livros, bons filmes, peças teatrais, gastronomia, boa música, conhecer novas culturas, viajar, não tenho vícios. Tenho mil defeitos, mas inúmeros qualidades. Mas, uma vez li um poema de Vinícius de Moraes, que dizia que pro amor nada disso importa. O amor se interessa por aquilo que nele provoca a paixão, não interessa o quão certinha, educada e honesta a pessoa seja. Posto isso não tenho mais muito a dizer. 

Apenas como diria Cássia Eller naquela canção: "ando por aí querendo te encontrar, em cada esquina paro, em cada olhar deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar". Ou Pitty, naquela outra: "eu estava aqui o tempo todo, só você não viu". 

sábado, 8 de junho de 2013

DAS MÃOS






Era um homem bonito. Moreno claro, alto, cabelos curtos pretos, barba bem desenhada, mas a primeira coisa que me chamou a atenção nele foram as mãos, antes mesmo de olhar seu rosto e perceber um olhar distante e perdido no nada, foi nas mãos que reparei. E que mãos! Não consegui mais parar de olhá-las até que ele saísse do meu campo de visão.

Enquanto estivemos próximos, tentei reparar em todos os detalhes. Sua aparência era serena e me transmitia calma. Eu olhava seu rosto, seu porte físico e aquele olhar perdido que já falei, mas suas mãos roubavam minha atenção como um imã atraindo metais. Elas eram grandes, bem cuidadas, de unhas curtas com uma fina lasca de cor branca condensada, que não são roídas, mas delicadamente aparadas. Pareciam tão macias, mãos de homem que nunca pegou no pesado, mas firmes, envolventes, de dedos longos, quase sem acessórios, apenas um anel grosso prateado com desenhos que lembravam raízes entrelaçadas em relevo, no polegar esquerdo.

Eu queria me concentrar no seu rosto, naquele olhar, tentar decifrar algo daquela retina distante amendoada, mas as mãos já tinham me hipnotizado irremediavelmente, àquela altura meu maior desejo já não era mais desvendar sua alma, mas ter meu corpo desvendado por suas mãos. Devaneei doces indecências. O que suas mãos seriam capazes de fazer comigo, mais do que qualquer outra parte do seu corpo. 

Massageou minhas costas nuas, deixando-me relaxado de tal forma que até minha respiração fluiu mais pura. Puxou meu cabelo pela nuca com a mão esquerda, espalmou minha face de leve com a direita percorrendo com a ponta dos dedos meu peito, massageando meus mamilos entumecidos. Pôs seus longos dedos em minha boca, primeiro o médio, depois o indicador, por último o anelar, movimentando-os suavemente pra frente e pra trás num ritmo regular. Com a outra agarrava minha barriga como se fizesse uma drenagem linfática poderosa, me proporcionando um misto de dor e prazer. Percebendo que já havia me levado a loucura de diversas formas, deu o golpe de misericórdia, tirou seus dedos todos babados de minha boca e num movimento brusco enfiou-os por trás, antes que eu pudesse pensar, desceu a mão esquerda até meu membro e acariciou meu sexo delicadamente.

Em fração de segundos, imaginei o melhor sexo que já tive na vida, pensando apenas nas mãos daquele homem que vi ali, uma única vez, sentado no café daquela livraria, tomando seu capuccino e folheando um exemplar da revista "Alfa".