segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O BEIJO





Andei pensando esses dias sobre um assunto que já deu o que tinha que dar, o famigerado beijo gay. Nunca me pronunciei sobre o assunto por pura preguiça, foi tão falado, debatido, reivindicado que cansou minha beleza. Eu realmente não achava primordial que rolasse um beijo entre personagens gays apaixonados em uma novela, embora acharia muito legal se acontecesse. Porém, penso que não são todas as tramas envolvendo casais do mesmo sexo que pedem que o romance seja selado com um beijo apaixonado. O beijo não deve ser inserido de qualquer maneira, só pra ser esfregado na cara de telespectadores incautos e preconceituosos. Tem que ter todo um histórico romântico, tipo amor impossível, que ao final, depois de todos os percalços brinda-se com a cereja do bolo, o beijo.


Por que pensei nisso agora?

Três fatores me levaram a escrever esse texto: o final de Sangue Bom, novela das sete que terminou semana passada; uma entrevista do novelista Sílvio de Abreu pra um canal virtual e o selinho trocado entre dois homens no programa Amor e Sexo da última quinta-feira (07).

Na novela, formou-se no último capítulo três casais gays, dois masculinos e um feminino e obviamente não houve beijo de nenhum dos três, mas a história que se desenhou durante a trama, envolvendo os personagens Filipinho e Xande foi delineada de tal maneira, que a troca de um beijo entre os dois seria muito legal de se ver. Foi tudo extremamente discreto e quase velado entre os dois, tanto que um telespectador menos atento mal perceberia que os personagens tinham algo além de pura amizade. A história: Filipinho era um garoto sensível e delicado que ainda não se descobrira gay e Xande, um rapaz hétero de caráter meio duvidoso, que nunca perdia a oportunidade de fazer bulliyng com Filipinho. Com o decorrer da trama percebemos que Filipinho gosta de Xande, esse porém namora garotas. A amizade entre os dois se estreita e Xande, antes um oportunista, começa a se tornar uma pessoa melhor influenciado por Filipinho, que por sua vez passa por diversos problemas pra aceitar e assumir sua sexualidade e acaba deixando de lado o sentimento por Xande, acreditando que como hétero ele jamais o corresponderá. Após resolver suas questões e aceitar-se como é, Filipinho reencontra Xande e se surpreende com uma declaração apaixonada do cara de quem gostou o tempo todo. Diferentemente da trama anterior de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, TiTiTi, onde o casal gay mais lindo da tele-dramaturgia, Julinho e Talles,trocavam muitos carinhos e demonstravam grande paixão, Filipinho e Xande formaram um casal insípido, sem conflitos pra assumirem seu amor e zero demonstração de estarem apaixonados, portanto, mereciam dar ao público que torceu por eles um fechamento digno e emocionante, selando a união com um beijo rápido, simples e sem alardes, coerente com o comportamento de ambos durante toda a trama. E também diferentemente de Talles e Julinho, que já demonstravam tanto amor que um beijo não faria diferença, eu quis ver um beijo entre Xande e Filipinho, me fez falta como nunca em outras novelas.

Aí, depois do falastrão Aguinaldo Silva dizer que o tal beijo nunca vai aparecer em nenhuma novela, que não precisa e coisa e tal, assisto uma rápida entrevista com Sílvio de Abreu afirmando o mesmo, que é uma bobagem, que não tem necessidade, que o público não quer ver e blá blá blá. Que é uma bobagem a discussão em torno disso, até concordo, que é desnecessário, pode até ser, mas que o público não quer ver, pera lá cara pálida! Que público que não quer ver? A grande maioria conservadora, preconceituosa e hipócrita? Ok! Mas, e a outra fatia do público? O gay que é louco por uma boa novela, e quase todos são (eu me incluo nessa)? As gentes descoladas, esclarecidas, cabeça aberta? Esse público existe, mesmo sendo em número menor e se dividem entre os que querem ver sim e os que não dão a mínima importância com uma cena de beijo entre iguais. E penso que como detentores de uma parte da audiência também deveriam ser respeitados em seu desejo assim como a maioria. Ou alguém imagina uma novela inteira sem ao menos um beijo trocado entre o casal protagonista? E se o beijo hétero aborrecesse e ferisse os valores dos telespectadores gays? Dane-se né, é apenas uma minoria. Pra mim é apenas uma questão de respeito, e esse sim precisa ser forçado.

Aí, pra mostrar que não é nada preconceituosa (e eu acho que não é mesmo, é tudo apenas uma questão de manter as aparências), vem a Globo e mete um selinho gay, sem quê nem mais, depois da meia-noite no Amor e Sexo de Fernanda Lima. Sem história, sem contexto, sem nada, só pra mostrar que aceita todas as formas de amor. Mas não é isso, não é simplesmente ver um beijo gay na Rede Globo de Televisão que nós queremos. Isso eu vejo na boate, nos filmes. Queremos que esse público conservador veja e encare com naturalidade, como encaram o beijo do casal protagonista, sem medo nem dor, sem asco nem pavor,apenas mais uma dentre tantas demonstrações de amor, e isso só vai acontecer quando formos representados por um beijo de novela.   

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