sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A ÚLTIMA GOTA DE "SANGUE BOM"





Foram 160 capítulos, acompanhados religiosamente desde o primeiro, exibido em 29 de abril. Sangue Bom foi a melhor novela do ano pra mim. Como numa orquestra, meus queridos autores Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, regeram magistralmente uma história engraçada, crítica, dramática e romântica com um texto típico para o horário das sete da noite, ácido e irônico, porém "soft".






Sangue Bom foi uma novela sem barriga, facílima de ser acompanhada, sem enrolações. Tudo muito bem costurado, com personagens carismáticos, feitos sob medida pra fisgar o coração e a simpatia ou antipatia do público. Sempre vai ter quem torça o nariz e diga que a novela não foi tudo isso, mas Sangue Bom tinha um astral tão bom, uma harmonia perfeita, como eu gosto de ver em novelas. Pra mim tudo funcionava, os cenários coloridos e luminosos, os diálogos afiadíssimos, os ganchos, a trilha sonora e a metalinguagem sempre tão presente e extremamente divertida. Esses dois últimos, aliás, foram ingredientes fundamentais.



Vimos em Sangue Bom as mais diversas referências aos programas da emissora, principalmente à outras novelas de grande sucesso como Cheias de Charme, Senhora do Destino e Avenida Brasil, com essa última, aliás, os autores deitaram e rolaram. Na figura de Tina (Íngrid Guimarães), eles fizeram uma grande homenagem a recentemente finalizada trama de João Emanuel Carneiro, um sucesso incontestável do ano passado que em sua versão satirizada nos fez dar muitas gargalhadas. Íngrid Guimarães se esbaldou com sua tresloucada Tina e foi à forra em cima de Bárbara Ellen (Giulia Gam em mais um momento brilhante). Uma das cenas mais deleitosas envolvendo as inimigas Tina e Bárbara foi quando dentro da própria sátira de Avenida Brasil os autores satirizaram outra memorável novela, Vale Tudo de Gilberto Braga. Em um devaneio, Tina pega uma arma dentro da gaveta do criado-mudo e ao ver o vulto de Bárbara se arrumando dentro do closet ela atira através da porta, estilhaçando-a com três tiros e assassinando Bárbara Ellen, fazendo-nos rememorar a clássica cena do assassinato de Odete Roitman (Beatriz Segal) cometido por Leila (Cássia Kiss). Nesse momento, a sensação era de que estava assistindo três novelas em uma. Vincent e Adelaide conseguem fazer essas junções com maestria.





A trilha sonora não podia ser mais apropriada, jovem, clássica, romântica e moderna, casava perfeitamente com cada momento em que era executada. Os acordes de "Toda forma de amor", tema de abertura que é um hino, um mantra, uma ode ao amor, a liberdae e a tolerância, "Janeiro à janeiro", "Poema", "Calma aí", "Jacarandá", "Zoião" e "Exagerado" sempre que tocavam pra seus respectivos personagens Amora e Bento, Rosemere e Perácio, Renata, Malu, Fabinho e Tina e Damáris eram sempre perfeitos. Tina e Damáris, além de dividir o mesmo tema musical, também compartilhavam da mesma loucura, às vezes era difícil saber quem era mais louca e mais apaixonante, na dúvida dou empate técnico, ambas estiveram esplendorosas com suas personagens cômicas, malucas e exageradas. Mas voltando as trilhas, Sangue Bom lançou 3 cd's, dois com as músicas nacionais e o terceiro com os temas internacionais, onde se destacaram "Guardian" na voz doce de Alanis Morissette para a igualmente doce Verônica de Letícia Sabatella, que sempre serena, ponderada e amável, pareceu-me interpretar alguém muito próxima de sua personalidade real. A deliciosa "Ho Hey" de The Lumineers para Bento e Amora; a linda "Some Nights" (Fun) como tema geral; "Home" (Phillip Phillips) embalando o amor entre tapas e beijos de Giane e Fabinho; "Feel So Close" (Calvin Harris) para os delírios de consumo de Amora; a regravação de Jesuton para "Because You Loved Me", tema romântico de Charlene e Wilson e a sensual "Madness" do Muse, dando um toque de sofisticação à toda a trama. Tudo de encher os ouvidos e a alma.






O elenco também foi um achado. O sexteto de protagonistas bem jovens, fez bonito e não deixou a peteca cair. No início, antes da estreia, me incomodou um pouco, lembrando demais um núcleo de Malhação, em especial Sophie Charlotte e Marco Pigossi que haviam saído de trabalhos recentes muito marcantes e também como um casal em Fina Estampa, me fizeram esquecer completamente seus personagens anteriores nos primeiros instantes que apareceram em cena como o bondoso e generoso, Bento de Jesus e a ex-menina de rua de caráter duvidoso que se tornou uma famosa it-girl, Amora Campana. Fernanda Vasconcelos, apesar de não ser minha atriz predileta, fez uma Malu correta, íntegra e cativante, bem como Jayme Matarazzo, que mostrou um nítido amadurecimento na pele de Maurício Vásquez, apesar do eterno rostinho de menino frágil, defendeu com verdade seu sincero e transparente personagem. Sem falar na minha dupla preferida, a "maloqueira", esquentada e leal Giane, feita pela linda e talentosa Isabelle Drummond, que num processo gradativo de transformação passou de uma garota sem vaidade, platonicamente apaixonada por Bento à charmosa e cobiçada modelo de campanhas publicitárias e aspirante a fotógrafa disputada por dois caras lindos, sendo um deles o sexto elemento desse grupo de protagonistas, o meu sonho de consumo Humberto Carrão, que arrasou como o detestável Fabinho Queiroz do início da história trilhando um caminho tortuoso até acabar rico, redimido e regenerado ao lado de seu grande amor, Giane. A única coisa difícil de engolir nessa história toda, foi um detalhe que passou batido pelos autores e na minha opinião foi um erro crasso. Fabinho era um bandido no início da trama e pra conseguir seus objetivos cometeu diversos delitos, entre eles roubar uma moto e falsificar um diploma de publicitário, o que lhe possibilitou estagiar na grande e badalada agência de Natan Vásquez (Bruno Garcia), onde ele mostrou que tinha talento, porém ele nunca estudou nem muito menos se formou em publicidade. Os autores passaram por cima desse fato que não é pouca coisa e simplesmente transformaram Fabinho em dono de sua própria agência como sócio de Érico (Armando Babaioff). Como assim, Brasil? Bem, apesar de não ser um erro bobo, relevemos, afinal em novelas quase sempre lança-se mão da licença poética, que existiu também em Avenida Brasil, no episódio do pen drive de Nina que nunca existiu e nem por isso a trama perdeu seu brilho, além do mais sigamos o conselho da sábia Glória Perez "é preciso voar". E foi tão bom voar com Sangue Bom!






Entre o extenso elenco presente nesse mimo das sete, brilharam todos de forma quase imparcial. Em meio a coadjuvantes novos e veteranos, destaque especial tiveram Malu Mader, num papel menor do que merecia, mas digno de seu talento e carisma onipresente, Malu ainda é diva e sempre será, sua Rosemere foi um bálsamo e uma felicidade diária para os fãs apaixonados como eu, mas só voltará a ter um papel à altura da musa que é quando voltar a trabalhar com seu outro eterno apaixonado Gilberto Braga. No papel de seu filho Filipinho, o novato Josafá Filho, em sua segunda novela, também se destacou, protagonizando um debate interessante sobre assumir a sexualidade em meio ao circo da mídia ou omitir sua real condição pra manter as aparências diante de um público que espera uma postura contrária à sua verdadeira essência. Yoná Magalhães á muitos anos sem ganhar um bom papel, desde Paraíso Tropical em 2007, defendeu sua sofrida Glória com toda a elegância peculiar à uma dama da tv. Ellen Roche, cheia de carisma e simpatia transformou a mulher-mangaba, Brunetty, que tinha tudo pra cair na vulgaridade, numa figura tão doce quanto seu apelido, quase infantil e carente e reiterou meu carinho por essa mulher exuberante, linda, gostosa e boa atriz também. Marisa Orth me ganhou de vez com Damáris, ela é engraçada da cabeça aos pés, até sem querer, e construiu uma personagem detestável, cheia de preconceitos, hipócrita, reprimida, recalcada e totalmente adorável, tarefa difícil que não é pra qualquer um e La Orth fez com os pés nas costas. Seu partner, Joaquim Lopez, também não fez feio, pelo contrário, foi uma grata surpresa, Lucindo era real, quase palpável, um cafajeste de primeira ou de quinta, mas com um "borogodó" e um coração gigantes, com jeito de malandro e cara de safado irresistíveis, acho que foi a grande revelação da novela. Teve também a ruivinha Bia Arantes como Cléo, um papel modesto, mas sempre que aparecia enchia a tela com seus cabelos cor de fogo e sua pele cor de leite. E a divina-maravilhosa Carmen Verônica, roubando todas as cenas em que aparecia na pele da esperta milionária Karmita Lancaster, que entrou na história pra fazer alguns capítulos e acabou ficando até o fim tamanho o apelo popular de sua personagem, sempre com um conselho oportuno, uma palavra ou um causo contado na hora certa. Não posso deixar de citar também a iluminada Andréia Horta, atriz que amo de paixão e teve uma importância fundamental na história, mesmo entrando na reta final, para promover a redenção de sua irmã Amora, protagonizando uma das mais tristes e emocionantes cenas da novela.






Como já disse, muitos brilharam nesse elenco estelar, mas citar todos deixaria o post longo demais e eu já tô me despedindo, com a certeza de que uma nova novela que vai me dar vontade de não perder nenhum capítulo e me fazer sentir como se fizesse parte daquele universo, vai demorar um pouco pra estrear novamente. Até lá fica a lembrança boa de uma história tão especial e a saudade! 



                                                  FIM
   

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