segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

RETROSPECTIVA 2013: DEZ ANOS EM UM


E estou aqui pra clássica retrospectiva do ano, mas dessa vez mais que relembrar os momentos legais e importantes, fazendo um apanhado geral do que foi 2013 pra mim, é da última década que quero falar. Um "tour" rápido pelas mazelas que vivi nos últimos dez anos pra chegar até aqui, e que olhando pra trás parece muito tempo, mas na prática foi um sopro. Será que cheguei onde queria? Consegui realizar algum sonho? Alcançar algum objetivo relevante? O que mudou efetivamente nesses dez meteóricos anos? Será que foi tempo suficiente pra atingir minhas metas? Teoricamente, mesmo que passe ligeiro, 10 anos é tempo pra se fazer muita coisa. E mesmo que hoje eu ainda não esteja exatamente onde quero e como quero, galgo o caminho que eu mesmo escolhi persistente e insistentemente há dez anos, de forma incansável. Às vezes dando uma descansadinha aqui, outra ali pra recuperar o fôlego, mas nunca pensando em desistir. Contra toda a falta de apoio e incredulidade, estou mais perto do que jamais estive do que sempre almejei ser, ter e fazer como objetivo de vida e felicidade.

O pontapé inicial foi dado no dia 09 de março de 2003. Saí da casa de meus pais no interior do Rio Grande do Sul pra ganhar a capital Porto Alegre e o mundo, meu mundo ideal. Encarei a rotina de um casal de idosos, amigos da família, que me acolheram por uns tempos até eu poder pagar meu próprio aluguel e iniciar o curso Técnico de Nutrição. Um breve desvio no meu caminho, que ambicionava a faculdade de Letras ou Jornalismo, porém a grana disponível só dava pra um curso técnico. Vislumbrando um salário razoável como nutricionista técnico, o que proporcionaria lá na frente o desejado curso superior, comecei os estudos. Foi bom. O curso era interessante, agradável e focava quase que exclusivamente em algo que adoro, comida. Aprendi muitas coisas legais, fiz estágios bacanas e tive até um bom emprego por um período bem curto, mas não era minha vocação, nunca foi. Meu pensamento estava sempre no sentimento humano e em escrever sobre ele. Era meu hobby de todas as horas, escrever, escrever, escrever.

Naquele ano conheci pessoas que carrego no peito até hoje, uma em especial, Maristela Braga. Vivi momentos de puro tormento na casa em que me hospedava, até após três meses conseguir me livrar de regras idiotas e uma má vontade gigante. Fui morar pela primeira vez verdadeiramente sozinho em um quarto que me dá arrepios de lembrar, ratinhos me faziam companhia frequentemente. Era péssimo? Sim. Mas era o que eu podia pagar. Eram minha rotina, minhas regras, minha independência. E a sensação de ser dono do próprio nariz é maravilhosa, ainda mais eu que sempre fui filho único, super protegido, criado pra sair de casa apenas e somente casado. Vivia algo que sempre desejei internamente desde muito cedo, mas nunca comentei em casa sobre. Saí da redoma de vidro da casa de meus pais sobre protestos e chantagens emocionais, por parte de minha mãe, é claro, porque meu pai nunca ligou muito pra isso, talvez tivesse ficado um pouco triste, mas nunca fez drama. Então estava eu lá, aos 21 anos de idade, morando com ratinhos, tendo como vizinhos de porta: um bêbado que tinha cirrose e todas as noites sofria com uma crise terrível de tosse, me fazendo custar à dormir; uma velha ninfomaníaca que queria transar a todo custo todas as noites com seu velho que já tava praticamente brocha, e não conseguindo saciar seus desejos, desfiava um rosário de xingamentos pra lá de obscenos pro pobre coitado, que morria de vergonha dos vizinhos e ficava em silêncio só ouvindo os desaforos da velha tarada, e um pedreiro que me tentava todas as noites com propostas bem ousadas, tal qual o mecânico de Amor à Vida que não deixa o Félix em paz. Nesse mesmo ano fiz estágio em dois hospitais e consegui ser dispensado dos dois. Me mantinha com inacreditáveis $300 reais, pagava o curso, as passagens e o aluguel. Foram tempos difíceis, mas sobrevivi.

No ano seguinte, 2004, conheci Rafael, Eduardo, Leo e Marcelo, pessoas que me apresentaram a noite Porto Alegrense, pois aos 22 anos eu ainda era um menino bem comportado, não conhecia os prazeres noturnos e otras cositas. Me endividei com o curso. Fui morar com uma gente horrorosa que transformou minha vida num inferno e nesse inferno acabei me libertando, pois aos 23 anos, sem suportar mais tanta maledicência disse à minha mãe com todas as letras o que já era óbvio pro mundo inteiro, mas ela não queria acreditar: "eu sou gay". Tudo finalmente esclarecido depois de duas décadas e um terço, entro na reta final do curso. Faço o estágio curricular. Arranjo emprego no hospital da cidade onde meus pais moram e me vejo obrigado a voltar pra casa deles, que nunca deixou de ser minha. Mas eu queria Porto Alegre, sempre quis. Sou bicho de cidade grande, "urbanóide" cosmopolita e sempre amei Porto Alegre. A capital do meu estado pode não ser a mais linda, mas é apaixonante. Volto contrariado e triste pra cidade de gente fofoqueira e medíocre, pra alegria de minha mãe. Inconformado, aos poucos começo a me adaptar ao trabalho, o que era difícil de engolir era a falta de cinemas, teatros, parques cheios de gente aos domingos, cafeterias, livrarias, gente interessante. Pra compensar tinha o mar, mas mesmo com toda sua imensidão era muito pouco pra mim. O reveillón daquele ano foi um barato, Eduardo e Rafael passaram comigo e fiquei muito amigo de Fernando naquele 31 de dezembro de 2004.

Com a chegada de 2005, sou demitido após o período de experiência, em fevereiro. Fiquei revoltado por ter sido vítima de picuinhas e fofocas, mas empolgado com a possibilidade de voltar à Porto Alegre e conseguir uma colocação lá. Fernando se torna meu melhor amigo, fazemos muitos passeios noturnos pela praia. Ele dorme em casa, eu durmo na casa dele, fazemos planos, tecemos sonhos de um dia sair daquele lugar infrutífero e assim vamos vivendo nossa vidinha pacata, sem grandes acontecimentos, mas nos agarrando um à companhia do outro. Até que por um golpe de sorte meu pai é transferido de seu emprego pra Porto Alegre. Minha alegria não cabia em mim. Voltar à minha amada capital sem precisar passar por todos os perrengues de viver sozinho, era bom demais. Minha mãe não aceitou, sempre odiou cidades grandes com todas as forças, mas dessa vez as circunstâncias eram inquestionáveis, ela teria que aceitar, ou ficaria sozinha naquela praia deserta. Pois a danada não foi. Alegou que esperaria o ano terminar e mudaria no ano seguinte quando tudo estivesse estabilizado. Eu e meu pai partimos em junho. Eu mesmo arrumei tudo, o lugar pra morarmos e todos os detalhes da mudança. Sem pressa de conseguir qualquer emprego pra sobreviver, comecei a procurar calmamente. Meu pai vivia de casa pro trabalho, do trabalho pra casa com saudades da minha mãe. Eu me jogava. Mas o que era bom durou pouco, não sei se foi macumba, pensamento negativo da minha mãe ou apenas azar o meu, mas meu pai foi demitido, o que o fez voltar correndo pra casa na praia, me deixando só novamente. Pra mim era uma questão de honra não voltar, e não voltei. Em dezembro consegui o emprego num restaurante uruguaio e consegui continuar às minhas próprias custas em Porto Alegre. Logo na entrevista conheci Ricardo, aquele que veio a ser um grande amor. Por Ricardo os três meses seguintes foram mágicos, mas depois desse período saí do restaurante, onde conheci também Milena, Cristina, Jonathan, Marise, Alexsandro, Liliana e mais um bocado de gente pra lá de especial, 2006 foi o ano das pessoas especiais, algumas permaneceram outras desvaneceram. 

Do restaurante fui trabalhar em um café colonial, onde conheci meus novos e queridos patrões, que se tornaram amigos do coração, Mara e Paulo. À essa altura eu já não atuava mais como técnico, depois que saí do hospital no litoral, desisti da profissão, resolvi focar no que sempre quis, mas emprego pra garçom e atendente nunca falta e meu currículo chamava a atenção. Então lá fui eu servir mesa por um bom tempo, odiando tudo aquilo com todas as forças, sonhando com meus contos, crônicas, poesias e prosas. O dinheiro nunca dava pra nada além do aluguel, roupa e necessidades pra lá de básicas. Queria e precisava fazer inglês, mas nunca chegava o suficiente, queria guardar um dinheiro no banco pra qualquer eventualidade, mas parecia piada, pagar a faculdade então nem pensar, prestar uma pública não passava pela minha cabeça, nunca fui muito fã de ficar debruçado horas e horas em cima dos livros e nem teria tempo pra isso. Precisava era de grana pra pagar pelo meu sonho. No final do ano, lá por setembro, me demiti. Depois de seis meses não aguentava mais àquela vida improdutiva. Pela primeira vez optei por voltar pra casa dos meus pais, já não tinha mais forças pra tentar a vida em Porto Alegre sozinho, sem a ajuda e o apoio de ninguém. Meus pais viviam a vidinha deles e financeiramente não podiam fazer muito por mim, coitados. Assim voltei e em dezembro daquele ano comecei a trabalhar como temporário no maior mercado da cidade, a rede Wall Mart. Depois de três meses e sem emprego mais uma vez resolvi tentar a sorte em outras paragens. Em março de 2007 mudei-me pra casa de uns parentes em Curitiba. Vivi por lá seis meses, foi uma das piores escolhas que fiz. Lugar chato, sem graça. Tirando os parques cercados de verde e laguinhos por todos os lados, não tinha mais nada de fascinante na cidade. Trabalhei em uma clínica no período que estive por lá, mas foi um dos piores empregos que já tive. Nada fluiu, foi tudo péssimo, exceto a companhia do meu tio Jeovani, uma figura divertidíssima com quem dividi o mesmo teto e muitas gargalhadas, filmes e séries enquanto morei na capital do Paraná.            

Em outubro daquele ano, retornei ao litoral do RS, e foi um dos momentos mais maravilhosos da minha vida. Sair de Curitiba e voltar pra minha terra foi uma sensação indescritivelmente agradável, até o céu da cidade parecia mais bonito, mais azul. Novamente trabalhei no Wall Mart naquele fim de ano, dessa vez com a promessa de uma efetivação, o que no fundo eu desejei. Já estava cansado de viver sozinho em Porto Alegre e batalhar sem resultados, longe do conforto de casa. Então me resignei e decidi ficar no interior com meus pais por tempo indeterminado, mesmo tendo a certeza de que meus sonhos jamais seriam realizados ali. Mas o trauma de minha passagem por Curitiba me fez mudar alguns conceitos. Aceitar que não adiantava dar murro em ponta de faca , o que tivesse de ser, seria.

Com o término da temporada de verão em 2008, minha efetivação não veio e fui dispensado do hipermercado. Tive uma ligeira decepção, que demorou pouco a passar. Logo estava eu de novo fazendo planos para sair daquela cidade insuportável. Nesta última temporada de Wall Mart me relacionei com pessoas incríveis: Rodrigo, Carine e Bruna foram os principais. Em março eu estava de volta à Porto Alegre, mas dessa vez eu estava diferente, mais maduro, mais consciente, mais feliz. Fiquei hospedado por um mês na casa de Verônica e Sheila, duas amigas que se mostraram uma bênção na minha vida, mas logo senti necessidade da minha privacidade e liberdade. Aluguei uma kitnet no centro da cidade, perto do meu trabalho, uma cafeteria argentina em um dos bairros nobres da cidade. O café era um sonho, mas o trabalho, depois de um tempo tornou-se um pesadelo. Nesse ínterim conheci pessoas e vivi momentos que fizeram àquele ano ser um dos mais memoráveis pra mim. Murilo se tornou meu grande amigo. Depois seu namorado, João. Carine me visitou algumas vezes. Bruna também mudou-se pra Poa. Rita foi um acontecimento na minha vida. E pra fechar o ano tive o privilégio de conhecer Bianca e Lauren, duas queridas, que me fizeram lançar um novo olhar pra vários ângulos da vida. Em dezembro me demiti da cafeteria argentina, pra assumir a sub-gerência de um café num cinema de shopping. Promessa de um emprego maravilhoso que não durou um mês.

No início de 2009, vivi uma das piores faces da minha vida. Desempregado e sem um centavo no bolso, tive que me virar nos 30 pra não passar fome. Um detalhe de 2008 muito importante, que esqueci de comentar, meus pais se pararam e foi um baque que me detonou emocionalmente, estragando grande parte das conquistas que tinha alcançado até aquele momento. Minha mãe veio morar comigo e foi desastroso. Nesse período de 2009 ela estava viajando quando passei pelo perrengue de ficar sem grana e sem trabalho e só quando não dava mais foi que liguei pedindo pra que ela voltasse com urgência. Com sua volta, uma nova ideia brotou na minha cabeça cansada de tantos lutas sem sucesso. Eu queria sair de Porto Alegre, mas dessa vez em definitivo, pra um lugar promissor onde a possibilidade de retorno não me tentasse. Troquei muitas mensagens com uma amiga que estava em Portugal e cogitei a possibilidade de sair do Brasil, mas diante das implicações burocráticas e da grana que não seria pouca, descartei. Até que veio a ideia mais óbvia que eu nunca havia tido, tentar a sorte em São Paulo. Depois de mais uma tentativa frustrada de trabalhar num bistrô, por uma semana, em maio parti pra terra da garoa. Sem ter a mínima ideia do que faria por lá, mas cheio de boas expectativas. Se não desse certo em São Paulo, não daria mais em lugar nenhum, esse era meu pensamento, e não errei. Quando cheguei por aqui me adaptei de imediato. Passei 10 meses e fui obrigado a retornar ao Sul por problemas de documentação. Voltei, mas parti determinado a resolver minhas pendências no RS e retornar a SP assim que tudo estivesse sanado. 

Em março de 2010, estava morando novamente com minha mãe, que ainda estava separada do meu pai, numa cidade chamada Capão da Canoa. Não era mais aquela cidade horrorosa que nem gosto de citar o nome, mas também era praia e bem pequena. Voltei triste, com o coração partido, pois tinha me apaixonado por São Paulo, mas aquele um ano e três meses que vivi em Capão da Canoa com minha mãe foi um dos melhores da minha vida. Ali descobri e conheci tanta coisa e tanta gente, mas principalmente me conheci como nunca antes. Fiz profundos mergulhos dentro de mim e da minha personalidade ao mesmo tempo que fazia planos pra uma volta triunfal e definitiva pra Sampa. Sem contar nos momentos mágicos íntimos e familiares com minha mãe, nossa relação atingiu um outro patamar à partir daquela fase. Em agosto voltei a trabalhar no Wall Mart, acreditem se quiser, mas ali era uma das melhores opções de emprego, e não tenham dúvida que trabalhar lá é uma das piores coisas do mundo. Fiquei 8 meses e me demiti. Um mês e meio depois, após me despedir dos amigos queridos que ali fiz: Luísa, Daniel, Robson, Jennifer, Vagner, entre outros, voei de volta pra São Paulo. Onde cheguei no dia 19 de junho de 2011.

Desde então vivo aqui nessa cidade, que pra mim é a maravilhosa, até porque ainda não conheço a outra. E nesses dois anos e meio que aqui me encontro não parei de ralar, batalhar e correr atrás, como sempre fiz, só que com uma grande diferença, sinto uma evolução nos meus esforços como antes não sentia, e tudo aqui me empolga, me impulsiona e me surpreende o tempo todo.

Nesse ano de 2013, em que fazem 10 anos da minha longa estrada solitária, finalmente consegui ingressar na universidade. Foram necessários 10 longos anos pra isso e muita perseverança, mas tô aqui. E eu não vou olhar pra trás com tristeza por não ter conseguido isso antes, por teoricamente, ter perdido tempo demais. Não perdi, ganhei. Fiquei amadurecido e sábio de coração. Não serei hipócrita de dizer que não preferia ter entrado muito antes, preferia sim. Mas foi assim que as coisas se sucederam comigo. E no meio de tantas pessoas imaturas e perdidas dentro de uma universidade, que agora eu vejo que tem muitas, que estudam e dividem comigo os bancos escolares, me sinto pleno de minhas vontades e desejos e cheio de uma certeza absoluta daquilo que quero e de onde quero chegar. E nesse ano de conquistas especiais andei ao lado de gente muito bacana. Foi o ano que conheci Celinha (Regina), Inácio Lisboa, Vânia, Valquíria, Carol Dias, Vanessa, Camila, Christiane, a criativa Jennifer, Denise, uma professora mágica de literatura, a Marcinha, o professor Murilo, uma grande inspiração e a dedicada professora Adriana. 

Tive a companhia agradável de minha amiga Luli, em vários jantares deliciosos em seu Ap. A vinda de Daniel pra São Paulo, mais uma vez, que resultou em muitos momentos legais de conversas, confidências e até desentendimentos. Passei a admirar cada vez mais meu colega de Ap., Alisson. Estreitei amizade com o sensacional Renato, um poço de papos-cabeça infindável. Também Maíra, uma louca adorável. Os amigos de sempre também estiveram presentes, João e Said, sempre agregando. Assisti filmes ótimos. Vi peças incríveis. Participei de eventos sensacionais. Li livros bons e ruins. Odiei meu trabalho mais do que nunca. Chorei a morte de uma pessoa querida que jamais poderia imaginar que partiria tão cedo. Tive momentos de terríveis angústias. Comecei a exercitar minha veia de escritor, crítico e resenhista pra um público maior, no super acessado blogue de entretenimento cultural Pop de Botequim, e isso me fez muito bem. E num apanhado geral, 2013 valeu muito à pena e pra que não reste qualquer dúvida de que 2014 promete, termino o ano com a promessa de um novo amor. Complicado e delicado, mas qual a graça do amor sem sua pitada de dificuldade.

"Valeu à pena. Sou pescador de ilusões!"      

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