quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

EI, MENINO!


Ei, menino! Por que a gente não se apaixona por quem se apaixona pela gente? Você disse que estava apaixonado por mim. Eu disse que não. Aí você voltou atrás, disse que também não estava mais.

Eu poderia me apaixonar por você, menino, mas agora tenho medo! Você sente rápido demais, põe os pés pelas mãos, se declara, pra pouco tempo depois se desmentir. Você é carente ao extremo, desastrado, hiperativo, distraído e menino. Tão menino! Mas foi o primeiro que me olhou com paixão, e isso mexeu comigo, mesmo você sendo tão menino.

Eu tenho 30, você 19. 

Sou ponderado, calmo, gosto de respirar e falar devagar, pausadamente. Você é elétrico, impaciente, atropela as palavras e fala pelos cotovelos. Somos tão diferentes, menino! E não sei se nesse caso os opostos se atraem. O que sei é que já te dei todos os motivos pra não termos um relacionamento e você pareceu concordar, mas as vezes acho que concordou apenas pra não se magoar. Quando tô perto de você sinto que alguma coisa dentro de ti me ama e me deseja de alguma maneira e isso me faz ter vontade de te amar também.

É aquela vontade de gostar de quem gosta da gente, retribuir o sentimento à altura. Mas, é tão difícil!

O fato é que te amo, menino! Mas parece fraterno, amor de pai, de irmão mais velho. Vontade de proteger, te guiar pelo melhor caminho, aconselhar, dar colo. Mas também desejo alguém que me proteja e não sei se você seria capaz de suprir tantas necessidades emocionais que habitam minha mente e meu coração. Você é só um menino, não deve se sobrecarregar com as carências de um homem de 30.

Ei, menino! Também tem a questão da libido. Se o que você sente por mim e o que eu sinto por você for só fraternal, não existe desejo sexual. Embora eu tenha sentido vontade de te beijar e a última vez que nos vimos achei que ia rolar, não o sexo, mas o beijo, as carícias, uma intimidade maior, mas você parecia que já tinha desistido de mim. E mesmo que o sexo não seja a coisa mais importante pra formação de um casal, e eu realmente acho que não é, alguma faísca tem que existir, você sabe, menino. Claro que você sabe. No vigor dos seus 19 anos suas faíscas estão crepitantes. As minhas é que já não andam lá essas coisas. Aí me pergunto: o ideal não seria um cara da minha idade, ou mais velho? Pra acompanhar o meu pique, que já não está tão pululante assim?

Ai, menino, ultimamente você tem me feito pensar tantas coisas. Não tô conseguindo simplesmente deixar acontecer, como tantos já me aconselharam. Achei que você era só um menino meio maluco e totalmente carente, que não significaria nada pra mim, mas você tem se feito presente todos os dias de alguma forma, até quando não liga ou deixa algum recado você tá sempre lá em algum cantinho da minha cabeça, me fazendo lembrar com uma felicidade inconfessa que existe alguém que gosta de mim, não como filho, amigo, colega, mas como homem, como ninguém nunca gostou, pelo menos não declaradamente. E nessas horas me sinto tão bobo, mais menino que você.

Normal sentir assim, afinal, sempre amei sem ser correspondido. E agora diante de você, da possibilidade do teu amor, eu temo. 

Estás longe de ser o homem que sonhei, mas pro inferno essa maldita idealização, relacionamento é construção. Mas não seria leviano da minha parte aceitar teu amor só porque és o primeiro que o declara com todas as letras? Você merece alguém que te ame muito, com paixão, com loucura. 

Você merece, menino! Porque você é bom, humano, generoso, inteligente, batalhador, trabalhador, engajado, inconformado, engraçado, divertido, puro, ingênuo, sonhador. Você é admirável e por isso eu posso vir a te amar, porque eu reconheço todas essas qualidades em você e até teus defeitos me parecem hilários e facilmente contornáveis. E também, porque eu tenho sentido saudade de você, da tua voz, do teu jeito, saudade de uma coisa que a gente ainda não viveu, quando eu acordo, quando saio pro trabalho, quando volto do trabalho. Ontem eu fiquei melancólico pensando em você, em como é bom saber que você gosta de mim de um jeito especial, mas talvez não conseguir corresponder. Ou começar a corresponder e ser tarde demais, você se desinteressar.

Ei, menino! Será que pode dar certo?

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