Em
2009, quando eu ainda morava em Porto Alegre, foi lançado um livro
de um jovem escritor local, Uma Leve Simetria. O autor
era Rafael Bán Jacobsen, meu conterrâneo,
nascido em 1981, como eu, físico, professor, pianista e escritor. Um
verdadeiro prodígio.
Ao
ler a primeira crítica, quando de seu lançamento, tive um interesse
imediato na leitura. Na contra-capa, um comentário do saudoso Moacyr
Scliar e a história, qualquer coisa de muito interessante. Era sobre
o amor de dois adolescentes judeus, Daniel e Pedro, em paralelo a
outro amor dos tempos bíblicos, o de Davi e Jonatã. Logo de cara
senti que não era simplesmente mais um romance da chamada
"literatura gay" (isso existe?). Tinha algo de muito mais
profundo ali e eu precisava mergulhar o mais rápido possível.
Estranhamente,
logo após o lançamento da obra, não ouvi falar mais nada
sobre ela. O Rio Grande do Sul é um celeiro de grandes escritores, e
os gaúchos mais do ninguém, divulgam maciçamente seus artistas
locais. Não foi o caso de Uma Leve Simetria, que
pareceu ter passado batido pelas livrarias e pelos leitores. O que me
fez até pensar que o livro não merecesse mesmo grandes atenções,
apenas mais um lançado, dentre tantos por aí, que não dizem nada.
Acontece
que o livro não saiu da minha cabeça. A capa era tão linda e ainda
falava de uma história bíblica tão intrigante e controversa, de um
amor que não ousa dizer seu nome nas páginas do livro sagrado. O
tempo passou. Mudei-me pra São Paulo, voltei pro RS e retornei à
São Paulo. Em janeiro último, exatos quatro anos depois de ter sido
lançado, comprei Uma Leve Simetria, que por motivos de
ter mil coisas da faculdade pra ler e mais um livro de 400 páginas
que comprei junto com ele, porque era o livro do momento, consegui
concluir sua leitura à poucas semanas.
E
quero coroar o término dessa belíssima obra deixando registrado
aqui, pra que todos tenham acesso à essa preciosidade da nossa
literatura.
O
romance de Rafael Bán Jacobsen, trata com toda a delicadeza
do mundo um assunto espinhoso e desconfortante, o amor entre dois
rapazes dentro de uma comunidade judaica. O solitário Daniel, órfão
de pai e mãe, de apenas 15 anos é o narrador de uma história
sensível, cujo centro dramático é seu amor por Pedro. Um amor que
nasce à sombra da sinagoga e alcança momentos sublimes, sem jamais
resvalar nesse terreno perigoso, onde a caricatura e o maniqueísmo
são ameaças constantes.
Seguro
de seu ofício e demonstrando um domínio absoluto da linguagem -
imagens poéticas, cuidado com as frases e acurado desvelo com a
palavra - Rafael narra os desencontros, as dificuldades, mas,
sobretudo, a paixão entre os dois jovens.
Um
história linda e emocionante!
Eu
realmente não perdi por esperar!
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