sexta-feira, 2 de agosto de 2013

HISTÓRIAS DE "MOLA MALUCA"






Sabe aquelas nostalgias infantis? 

Hoje remexendo no baú de memórias da minha tenra idade, lembrei da "mola maluca", um brinquedo sensacional e muito simples, que fazia a alegria da molecada nos meus verdes anos.

Quem é cria dos anos 80/90, com certeza se lembra. O brinquedo, como já disse, era bem simples, mas tinha efeitos incríveis, que divertia à valer. Era basicamente uma mola mesmo, o que a diferenciava uma das outras eram suas cores, tinha de todas, rosa, amarela, preta, verde, azul, laranja, lilás, multicolorida, mas as mais cobiçadas eram a dourada e a prata, que eram feitas de um material um pouco mais resistente que as de plástico coloridas.

Eu tinha verdadeira obsessão por elas, todos os meus colegas na escola, vizinhos, amiguinhos tinham a sua, mas eu não. Não lembro por que cargas d'água meus pais não queriam comprar uma pra mim e obtê-la acabou se tornando uma grande peregrinação. Ter uma "mola maluca" tornou-se um verdadeiro drama pra mim, cheguei a cometer verdadeiras sandices por ela.

Eu colecionava álbuns de figurinhas (prática que adorava), daqueles que davam brindes, e num desses álbuns, o brinde era uma "mola", se você achasse a figurinha premiada. Eu nunca achava, e aquilo que dava uma angústia absurda. Todos brincando, se divertindo com sua "mola", menos eu.

Por causa desse bendito brinquedo, me tornei um menor infrator aos 11 anos de idade. É engraçado falar sobre isso hoje e relembrar as loucuras infantis que cometi pra ter minha "mola maluca", mas na época, fiquei com minha consciência que sempre foi bem treinada, bastante pesada. Meus "crimes"? Furto simples e assalto. É minha gente, o desespero de uma criança ressentida por não ter o brinquedo da moda, pode levá-la à um nível de baixeza inacreditável.

O furto simples aconteceu dentro de casa mesmo, quando peguei da bolsa de mamãe um valor equivalente à $50 e fui ensandecido até o boteco que tinha perto de casa, comprar todo aquele valor em figurinhas pro meu álbum, na intenção de encontrar a premiada e trocar por uma "mola". Lembro que deu pra muitos pacotes, passei à tarde abrindo e encontrando somente figurinhas repetidas, nenhuma premiada. Me senti a pior das criaturas, tomado por uma frustração inominável a culpa começou a me consumir. Roubar a própria mãe foi horrível demais. No fim, quando ela sentiu falta do dinheiro, achou que tivesse perdido e nem se lamentou tanto, o que me deixou um pouco mais aliviado. Isso nunca mais voltou à acontecer, que fique bem claro! E anos depois, confessei meu crime à mamãe e rimos muito dessa história. Ela nunca desconfiou.

Mas ainda estava sem meu objeto de desejo e não ia sossegar enquanto ele não me pertencesse. 

A grande chance de finalmente ganhar a "mola maluca" surgiu durante os festejos de fim de ano promovidos pela prefeitura da cidade. Foram distribuídas durante a semana que ocorreria a festa, senhas com o nome do brinquedo que cada criança ganharia do Papai Noel. Minha mãe conseguiu pra mim uma senha com a palavra "mola", escrita à mão. Feliz da vida, fui pra tal festa com a absoluta certeza de que dessa vez não voltaria pra casa sem o brinquedo tão almejado.

Mas como todo castigo pra pobre é pouco, me ferrei! Na hora da distribuição dos brinquedos, a desagradável e decepcionante surpresa, a palavra escrita à mão naquilo que seria a senha pra pegar a "mola maluca" era "bola" e não "mola". Desnecessário dizer que eu quis morrer, não é? 

Imediatamente fui tomado por um desespero, uma revolta e uma tristeza imensuráveis. Conseguir a "mola maluca" naquele momento, pra mim havia se tornado questão de honra. Pra todos os lados que olhava, crianças  felizes com suas "molas maluca" recém ganhadas daquele maldito Papai Noel, riam e brincavam. Eu queria, eu merecia, eu tinha o direito de ter uma. Fiquei cego pela minha obsessão, mirei um alvo, criei coragem, fui em direção a ele, arranquei a "mola maluca" de sua mão e corri, corri, corri desesperadamente, o mais rápido que já consegui correr na vida, até desaparecer das vistas de todos que estavam naquele local, enquanto a dona da "mola" gritava à pleno pulmões "pega ladrão"!

E assim, depois de muito sofrimento e alguns delitos, a saga pela "mola maluca" chegou ao fim. Brinquei horrores com ela, por uma semana no máximo, até ficar toda enrolada e eu não conseguir mais arrumá-la. Ela tinha esse pequeno problema, se enrolasse de determinado jeito, estragava de vez. Lembro que num acesso de fúria joguei-a no telhado. 

E ficou a recordação de uma história engraçada de criança, que hoje é motivo de risadas.Uma história maluca. A história de uma mola que me levou até o fundo do poço pra consegui-la, mas me impulsionou de volta pra se tornar um causo mais de vinte anos depois.

Ps.: Às vezes fico pensando na garotinha que foi vítima do meu assalto. Será que ela ficou traumatizada?

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