segunda-feira, 19 de maio de 2014

PORNÔ - REALIDADE


Precisava de algumas horas de sexo. Os dias, semanas e meses se passavam, o trabalho e os estudos o absorviam, o desejo de encontrar o amor que não vinha o desanimava e a libido só diminuía. Mas não era de ferro e antes de se sentir um alienígena, depois de meses de uma vida quase monástica, saiu à procura de sexo. Uma foda, pura e simplesmente. Longa ou rapidinha, ele só queria gozar com outro cara, na real, pele com pele, saliva com saliva, longe da tela de plasma de seu computador de última geração.

Tomou um banho demorado. Escolheu uma roupa bacana, um perfume irresistível e partiu à caça. Nesses momentos se sentia outra pessoa, era como se uma entidade se apropriasse de seu corpo. Sempre bem comportado, gentil, culto e amável, era difícil até pra ele acreditar que fosse capaz de se submeter a lugares daquele nível, em busca de sexo fácil. Um cinema pornô, desses enormes e que funcionam 24 horas no centro da cidade, onde homens de todos os tipos se entregam á suas mais profundas sordidezes. Mas em determinados momentos na vida, todos precisamos ser sórdidos, principalmente quando se trata de sexo, pensava ele. E essa historia de ficar esperando o arrebatamento amoroso, a paixão, as borboletas no estômago, o brilho nos olhos, se guardando pra esse momento especial, já estava ficando patético.

Lá dentro, uma penumbra que só deixava vislumbrar vultos ao fundo da sala. Gemidos, odores e fluidos se espalhavam por todo o ambiente. Em condições normais ele sentiria ânsia de vômito, mas seus sentidos estavam alterados pela excitação e o desejo.

Andou entre os vultos, tornando-se mais um. Nada o apeteceu. Sentou-se, enquanto esperava surgir alguém interessante. O tesão lhe dava taquicardia. Ao seu lado o Outro o encarava com olhos flamejantes. Em questão de segundos os dois se beijavam ardentemente. E os beijos foram se tornando um crescente de carinhos e ternura impossível de acreditar. A taquicardia foi diminuindo pouco à pouco, dando lugar a uma calmaria no peito. 

O beijo do Outro era doce. Seus lábios, firmes e macios. Os cabelos sedosos. O cheiro inebriante. O cavanhaque, de um arranhar suave. A pele tinha uma textura de pêssego. Um homem difícil de se encontrar num lugar daqueles, assim como ele.

Quando os beijos lhes tiravam o fôlego, encaixavam-se no pescoço um do outro, aspirando seus perfumes embriagantes. O Outro o enlaçava em seus braços fortes, como se quisesse protegê-lo do mundo, guardá-lo só pra si, pra sempre. Beijava-lhe as faces, as mãos, o nariz, os olhos, a testa, os cabelos com tamanha singeleza que ele achou tratar-se de uma grandessíssima ironia do destino. Naquele lugar fétido e nauseabundo, à procura de uma trepada ordinária qualquer, encontrou alguém que o deixou recostar a cabeça em seu peito e entrelaçar suas mãos na dele.

As vezes seguravam seus rostos com as duas mãos olhando-se profundamente nos olhos, incrédulos que pudessem ter encontrado num cinema pornô no centro da cidade a companhia tão almejada. Poderia nascer dali o sentimento acalentado por toda uma existência? 

O Outro precisou ir embora, mas trocaram telefone. Ele não fez sexo aquela noite, mas voltou pra casa leve e feliz. Sonhou com aqueles beijos indeléveis e as carícias perfumadas por dias e noites seguidas. Esperou ansiosamente o telefonema do Outro, mas ele não ligou. Já faz seis meses daquela noite, está começando a pensar em dar um pulinho no cinema pornô novamente, mas dessa vez por mais que o destino venha com suas gracinhas, ele não sai de lá sem trepar.  

Um comentário:

  1. WOW! Ferveu o Ki-suco... hahahaha! Muito bom! Hugzão - gaudério - pra ti! ;)

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