sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

DILACERADO


Ivan fazia sua corrida vespertina todos os dias naquele parque. Era sagrado, chegava do trabalho, se livrava do terno e da gravata, vestia o moletom e ia pro parque à poucos quilômetros de sua casa. Andava meio solitário e um tanto carente, o Ivan, de 34 anos, cabelos raspados e olhos cor de chuva.

Naquele dia se atrasou pra corrida, chegou ao parque num horário que não lhe agradava muito, quase escurecendo. Era o horário da "caça". Homens "caçavam" homens entre as copas das árvores, sedentos, famintos, cheios de concupiscências. Ivan sabia disso, pois já tinha sido um desses homens. Há tempos deixara essa prática pra trás.

Tentou fazer sua corrida sem se importar com os olhares e as pegações ao redor, mas alguém estava atrás dele, muito próximo, sentia a respiração ofegante muito perto. Olhou pra trás por curiosidade, surpreendeu-se com Oscar, 41 anos, grisalho, olhos amendoados e bem atlético.

Oscar lançou-lhe um olhar faminto e misterioso. Ivan resistiu, apressou o passo e correu mais rápido, queria se livrar da tentação. Oscar não desistiu, começou a persegui-lo como um lince persegue uma lebre. Alcançou-o até pegá-lo pelo braço. Ivan desvencilhou-se irritado sem nada dizer. Oscar agarrou-o pelo braço novamente, não houve palavra, comunicaram-se só com o olhar. O de Oscar dizia que o desejava ardentemente. Ivan relutou, mas o outro tinha um charme difícil de resistir.

Ainda assim, por alguns segundos Ivan repeliu-o, mas Oscar o segurava e investia em cima dele, mesmo contra a vontade, até segurar seu rosto firmemente entre as mãos e lhe beijar quase à força. Um beijo profundo, com fúria, doloroso, molhado e quente. Ivan finalmente se entregou em meio à penumbra noturna das árvores, àquele beijo que mais parecia uma luta, tamanhos eram o desejo e a excitação dos dois homens encolerizados de tesão.

Definitivamente entregue a situação, a mão de Ivan deslizou por dentro do moletom de Oscar e com movimentos frenéticos e alucinados os lábios e as línguas se corroíam em desespero e o membro latejava insanamente. Oscar explorava a boca de Ivan como se quisesse sugar até a última gota de sua energia vital. Ivan masturbava Oscar cada vez com mais força e rapidez. Oscar explodiu num gozo denso e farto. Se afastou de Ivan imediatamente, que tentou segurá-lo, mas foi empurrado com violência.

Oscar correu rápido, muito rápido pra longe de Ivan. Ivan ficou parado vendo o outro se afastar, com a mão direita cheia de um pouco de vida daquele homem do qual nem sabia o nome e os olhos cor de chuva inundados, prenunciando mais uma tempestade no seu coração.  

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