quarta-feira, 28 de maio de 2014

FILMES QUE AMO: "DO OUTRO LADO" #02


Em 2008 passei por uma experiência cinematográfica única e inesquecível ao assistir o filme do diretor alemão Fatih Akin, Do Outro Lado. Um filme que fala de política, ideais, preconceito e amor. Amor maternal, amor filial, amor homossexual. Independente do tipo de amor, a história é simplesmente emocionante.

Do Outro Lado  nos mostra como os destinos podem mudar dependendo de pequenos momentos, de pequenos acontecimentos. Acompanha-se fragmentos da história de três famílias, duas turcas e uma alemã, que se ligam irremediavelmente, formando uma teia de acontecimentos surpreendentes e fascinantes.

Ali é um aposentado turco que inicia um romance com Yeter, uma prostituta quarentona também turca, ambos vivem na Alemanha. Preocupado com o envolvimento do pai com a tal mulher, Nejat, filho de Ali e professor de literatura numa universidade alemã, resolve visitá-lo e conhecer Yeter. Quando é apresentado a ela, Nejat se surpreende ao se deparar com uma mulher batalhadora e companheira, que manda dinheiro todo o mês para a filha Ayten, que mora em Istambul e está em apuros por ser uma ativista política.

Yeter sente confiança em Nejat e se abre com ele contando toda sua história, expondo sua preocupação de mãe pela filha sozinha vivendo na Turquia e que não manda notícias há algum tempo, correndo o risco de ser uma presa política, e lhe faz um pedido para que ele vá até Istambul, encontre sua filha e convença-a a se mudar pra Alemanha.

Na verdade Ayten, que acredita que a mãe trabalha em uma loja de sapatos em Hamburgo, e está sendo perseguida pelo governo, fugiu da Turquia para procurá-la e não encontrando-a após tentar achá-la em todas as lojas de sapatos da cidade acabou vagando nas ruas até conhecer Lotte e ser acolhida por ela. Lotte é uma jovem alemã por quem Ayten se apaixona e as duas começam um relacionamento, deixando Susanne, a mãe de Lotte, preocupada. 

Quando em uma briga doméstica Yeter é assassinada por Ali e o corpo dela tem de ser extraditado para Istambul, Nejat toma todas as providências, e uma vez na terra natal de seu pai resolve ficar e encontrar Ayten, em memória de Yeter. Lá, Nejat compra uma pequena livraria e se estabelece, sempre à procura de Ayten.

Enquanto isso, Ayten que tem o pedido de asilo negado pelo governo alemão é presa, voltando assim pra Turquia e deixando a apaixonada Lotte em desespero, que aflita por ajudar sua amada acaba impulsivamente partindo para Istambul, contrariando todos os apelos da mãe. É quando uma fatalidade acontece e Susanne se vê obrigada a também viajar para Istambul atrás da filha. Em mais uma manobra do destino as vidas de Susanne e Nejat se cruzam e a história parte para o seu emocionante final.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

TANTA COISA


Tenho tantos livros não lidos.
Lugares não visitados.
Filmes não assistidos.
Viagens não feitas.
Perguntas não respondidas.

Perfumes não sentidos.
Bebidas não experimentadas.
Comidas não degustadas.
Flores não recebidas.
Saudades não matadas.

Frutas não saboreadas.
Carícias não sentidas.
Músicas não dançadas.
Contos não escritos.
Histórias não contadas.

Energias não gastas.
Gargalhadas não dadas.
Sexo não feito.
Beijos não trocados.
Emoções não compartilhadas.

Obras de arte não apreciadas.
Grifes não compradas.
Idiomas não aprendidos.
Belezas naturais não exploradas.
Café da manhã na cama não ofertado.

Canções não ouvidas.
Atitudes não ousadas.
Paisagens não contempladas.
Direções não tomadas.
Raivas não extravasadas.

Talentos não reconhecidos.
Distâncias não encurtadas.
Palavras não verbalizadas.
Ideias não transmitidas.
Pessoas não apreciadas.

Caminhos não percorridos.
Mágoas não dissolvidas.
Perdões não concedidos.
Mãos não dadas.
Amores não correspondidos.

É tanta vida ainda pra se viver.
Tenho medo que não dê tempo.
De concretizar os desejos.
De realizar os sonhos! 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

PORNÔ - REALIDADE


Precisava de algumas horas de sexo. Os dias, semanas e meses se passavam, o trabalho e os estudos o absorviam, o desejo de encontrar o amor que não vinha o desanimava e a libido só diminuía. Mas não era de ferro e antes de se sentir um alienígena, depois de meses de uma vida quase monástica, saiu à procura de sexo. Uma foda, pura e simplesmente. Longa ou rapidinha, ele só queria gozar com outro cara, na real, pele com pele, saliva com saliva, longe da tela de plasma de seu computador de última geração.

Tomou um banho demorado. Escolheu uma roupa bacana, um perfume irresistível e partiu à caça. Nesses momentos se sentia outra pessoa, era como se uma entidade se apropriasse de seu corpo. Sempre bem comportado, gentil, culto e amável, era difícil até pra ele acreditar que fosse capaz de se submeter a lugares daquele nível, em busca de sexo fácil. Um cinema pornô, desses enormes e que funcionam 24 horas no centro da cidade, onde homens de todos os tipos se entregam á suas mais profundas sordidezes. Mas em determinados momentos na vida, todos precisamos ser sórdidos, principalmente quando se trata de sexo, pensava ele. E essa historia de ficar esperando o arrebatamento amoroso, a paixão, as borboletas no estômago, o brilho nos olhos, se guardando pra esse momento especial, já estava ficando patético.

Lá dentro, uma penumbra que só deixava vislumbrar vultos ao fundo da sala. Gemidos, odores e fluidos se espalhavam por todo o ambiente. Em condições normais ele sentiria ânsia de vômito, mas seus sentidos estavam alterados pela excitação e o desejo.

Andou entre os vultos, tornando-se mais um. Nada o apeteceu. Sentou-se, enquanto esperava surgir alguém interessante. O tesão lhe dava taquicardia. Ao seu lado o Outro o encarava com olhos flamejantes. Em questão de segundos os dois se beijavam ardentemente. E os beijos foram se tornando um crescente de carinhos e ternura impossível de acreditar. A taquicardia foi diminuindo pouco à pouco, dando lugar a uma calmaria no peito. 

O beijo do Outro era doce. Seus lábios, firmes e macios. Os cabelos sedosos. O cheiro inebriante. O cavanhaque, de um arranhar suave. A pele tinha uma textura de pêssego. Um homem difícil de se encontrar num lugar daqueles, assim como ele.

Quando os beijos lhes tiravam o fôlego, encaixavam-se no pescoço um do outro, aspirando seus perfumes embriagantes. O Outro o enlaçava em seus braços fortes, como se quisesse protegê-lo do mundo, guardá-lo só pra si, pra sempre. Beijava-lhe as faces, as mãos, o nariz, os olhos, a testa, os cabelos com tamanha singeleza que ele achou tratar-se de uma grandessíssima ironia do destino. Naquele lugar fétido e nauseabundo, à procura de uma trepada ordinária qualquer, encontrou alguém que o deixou recostar a cabeça em seu peito e entrelaçar suas mãos na dele.

As vezes seguravam seus rostos com as duas mãos olhando-se profundamente nos olhos, incrédulos que pudessem ter encontrado num cinema pornô no centro da cidade a companhia tão almejada. Poderia nascer dali o sentimento acalentado por toda uma existência? 

O Outro precisou ir embora, mas trocaram telefone. Ele não fez sexo aquela noite, mas voltou pra casa leve e feliz. Sonhou com aqueles beijos indeléveis e as carícias perfumadas por dias e noites seguidas. Esperou ansiosamente o telefonema do Outro, mas ele não ligou. Já faz seis meses daquela noite, está começando a pensar em dar um pulinho no cinema pornô novamente, mas dessa vez por mais que o destino venha com suas gracinhas, ele não sai de lá sem trepar.